Depois de uma passagem pelo Rio de Janeiro e de uma
temporada no Memorial da América Latina, em São Paulo , a exposição
"Guerra e Paz", de Candido Portinari, termina hoje, 20 de
maio de 2012. A
mostra, que recebeu mais de 120 mil pessoas, apresenta os painéis
"Guerra" e "Paz", que medem 14 metros de altura e 10
de largura, e cerca de 100 documentos preparatórios das obras, realizadas entre
1952 e 1956 sob encomenda do governo brasileiro.
A grandiloquência a exposição pode ser medida pela
importância da obra e de seu autor. Dimensão, esta, dada pelo texto crítico de
Israel Pedrosa (artista plástico que foi aluno de Portinari) veiculado na
presente postagem:
O Pintor do Novo Mundo
Sempre que se quis definir Portinari, a partir da
visão de sua obra, essa definição atingia tal abrangência que ultrapassava em
muito a caracterização, simplesmente humana, do pintor.
Foi assim quando de sua exposição no Museu de Arte
Moderna de Nova York, apresentando-o como Portinari of
Brazil,
formulação que dava-lhe o foro de pintor nacional de seu país.
No catálogo da exposição Cem
Obras Primas de Portinari,
realizada pelo Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), seu
diretor Pietro Maria Bardi o qualificara como “um intérprete das misérias do
Terceiro Mundo”, tendo Antônio Bento, algum tempo depois, denominado-o
simplesmente: o pintor do Terceiro Mundo.
Ao reduzir o termo, Bento ampliava-lhe o sentido,
como que dissesse ser ele não apenas o intérprete das misérias, mas também das
lutas, alegrias e esperanças comuns a esse universo majoritário de nosso
planeta.
Hoje passadas várias décadas desses esforços de
definição, delineia-se claramente o perfil de Portinari como o de O
pintor do Novo Mundo.
Epíteto que, ultrapassando o significado simplesmente geográfico, representa
sobretudo o novo mundo social e espiritual que o perene labor humano vem
construindo, como fruto de seus melhores anseios: a Nova Era
de
que Paul Klee e David Alfaro Siqueiros sonhavam ser os pioneiros. E que
realmente o foram, cada um a seu modo.
Este Novo Mundo, de
que Portinari viria a ser seu grande intérprete e magno representante, é o Novo
Mundo que
começa a emergir em meio às lutas e às aspirações, não apenas dos visionários
das regiões periféricas e dos atuais países emergentes, mas também às de toda a
humanidade progressista. Mundo de paz, de trabalho produtivo, de alegria,
felicidade e amor entre os seres humanos, e de fraterna confiança entre os
povos. Mundo que, alheio às desalentadoras especulações cerebrinas sobre o fim
da História, começa a palmilhar as sendas vislumbradas de superiores estágios
sociais da irrefreável História, nutridas pela incansável busca da
perfectibilidade da condição humana.
O Realismo do século XX
Tomada em seu conjunto, como um imenso painel que
aborda todos os aspectos da alma humana e da vida social, da miséria e da
desgraça, aos anseios da bem-aventurança terrestre. O brilho do olhar de seus
miseráveis e degradados seres amoráveis tem a chama reivindicativa da
esperança. Sua obra, expressão coerente de sua generosa visão de mundo, não
decorre apenas de um “otimismo da vontade” em meio ao “pessimismo da razão”. É
expressão de uma razão combatente que, em meio à adversidade, revela os
lenitivos de uma cantata ao porvir. Então, tal como Shakespeare, Bach, Mozart
ou Goethe, em puro aporte ao conceito gramisciano, sua arte “ensina enquanto
arte, não como arte educativa”, adentrando o reino do conhecimento sensível,
tal como vislumbrara Vico. Sem desfalecimento a obra de Portinari assume
autêntica expressão do Realismo do século XX. Realismo herdeiro do mesmo clima
espiritual de Goya, Turner, Daumier, Millet e Courbet. Nutrida por hermenêutica
de toda a História da arte, a saga portinariana revela ressonâncias sensíveis
dos pré-renascentistas, dos renascentistas, dos tormentos de Grunewald, dos
arroubos expressionistas e até de insólitos ângulos cubistas. Seu Realismo,
expressão sublimada do modernismo estético do século XX, reveste-se com toda a
riqueza ancestral do vocabulário plástico universal. Contudo, não é um Realismo
sem fronteiras, como aspirava Roger Garaudy, pois nele, como
assinala o próprio Portinari, em seu poema Grunewald, há
um inequívoco norteamento humanístico:
O bem é teu, permanecerá.
Malditos eles donos do mal
Não existirão.
A universalidade de seu vocabulário plástico é ao
mesmo tempo a única forma de expressão de seu postulado estético. É com ela que
desde o início de sua saga ele revela um universo novo para a historicidade da
arte. Daí surgem as reminiscências rurais de sua infância, o cenário humilde
das nascentes metrópoles, cenas e alma da vida brasileira. A singeleza ou a
monumentalidade dessas visões estão expressas nos murais da casa de Brodósqui,
da capela da Pampulha, do Ministério da Educação, da Biblioteca do Congresso,
em Washington, e dos painéis e quadros que percorreram o território das três
Américas. Em período sombrio para a humanidade, a exposição de elementos dessa
imensa obra fez parte da “política de boa vizinhança” entre os Estados Unidos
da América do Norte e os povos da América Latina, na mobilização continental
contra o nazifacismo. Período que antecedeu a entrada do Brasil na 2ª Guerra
Mundial ao lado das potências aliadas.
A Exposição Da Galeria Charpentier
No imediato pós-guerra, quando Paris preparava-se
para reassumir sua condição de capital mundial da pintura, no outono de 1946, é
montada na Galeria Charpentier a grande exposição de Candido Portinari,
idealizada pelo historiador de arte e conservador do Museu do Louvre, Germain
Bazin, que escreveu o prefácio do catálogo da mostra.
Nele o crítico francês afirma que, sozinho e no
outro lado do mundo, o pintor de Brodósqui tomara espontaneamente essa posição
social, cuja inquietude começava então a surgir na França. Acrescentando que
confrontavam-se em sua obra todas as forças de expressão. Agia como se tivesse
de inventar por conta própria a pintura, abordando todas as técnicas e todas as
harmonias. Ao lado de telas cheias de ternura, havia outras de um
expressionismo pungente, cuja violência sem medida talvez causasse surpresa aos
parisienses, habituados a verem respeitados, mesmo nas maiores audácias, os
cânones elaborados por 30 anos de especulações plásticas obedientes ao bom-tom.
Essa violência soprava como um vento impetuoso,
vindo de seu próprio país. Terra dominadora dos trópicos, cuja força, no espaço
de uma geração, assimilava os brasileiro, à véspera da inauguração, Paris
apareceu coberta de cartazes anunciando a exposição de Portinari na Galeria
Charpentier. O êxito da mostra foi registrado em inúmeros noticiários e em mais
de 50 artigos de crítica e assistido por numeroso público: “comparecimento em
massa, verdadeira multidão”. Através da cadeia nacional da radiodifusão
francesa, o poeta Louis Aragon, um dos criadores do surrealismo, ressaltou a
expressão profunda, exata, humana e surpreendente de um artista estrangeiro
como Portinari, que em cuja obra se sentia representada sua nação... No mesmo
período da mostra de Portinari, realizaram-se em Paris o Salão de Outono e a
exposição de Kandinsky, dando início ao revigoramento da abstração pictórica.
A origem desse revigoramento
encontrava-se do outro lado do Atlântico, no êxito da distante exposição de
1913, no Armory Show, de Nova York. Evento catalisador de
público e prestígio para as vanguardas artísticas e para todo o movimento
modernista europeu, criando em meio aos artistas, à intelectualidade e à alta
burguesia norte-americana o decisivo apoio para o triunfo e a expansão
planetária dessas correntes artísticas que caracterizaram a cultura e as artes
do último século.
No curso da segunda metade desse citado século,
verifica-se a morte das denominadas vanguardas artísticas, dando início ao ciclo
de culto aos grandes artistas revelados por elas.
O fim das denominadas vanguardas artísticas está ligado ao declínio do poder dos pólos estéticos hegemônicos das grandes potências ocidentais. Em
decorrência do vigoroso surto de renovação cultural
que vinha se desenvolvendo desde o século XIX
e início do século XX nas antigas regiões
periféricas, caracterizadas agora como
universo emergente, juntando-se ao que de melhor produziram alguns artistas dos países desenvolvidos, surgem no decorrer do século passado excepcionais exemplares de uma arte que abre caminho a novos estágios de fruição estética, apontando para um almejado e inigualável mundo novo. Falamos
de uma cosmovisão alicerçada pelas sonoridades díspares de Aran Katchaturian,
Samuel Barber e Heitor Villa-Lobos; pela dramaturgia de Bertold Brecht; pelas
espantosas visões literárias de Mikhail Cholokhov, de Theodore Dreiser, Guimarães
Rosa e Gabriel García Márquez; pela poesia de Nazim Hikmet, Paul Valéry, Pablo
Neruda e Carlos Drummond de Andrade; pelos relampejares sísmicos de Serguei
Eisenstein, Akira Kurosawa, Frederico Fellini e Glauber Rocha; pela imagística
de Paul Klee, David Alfaro Siqueiros e Candido Portinari.
Os painéis Guerra e Paz
Para Portinari, os últimos anos da década de 1940 e
os primeiros da seguinte são marcados pela realização de seus grandes painéis
móveis: A
Primeira Missa no Brasil (1948), Tiradentes (1949),
Chegada
de
D.
João VI ao Brasil (1952) e Guerra e Paz
(1952-1956).
Em 1952, atendendo a convite do Itamaraty, Portinari
inicia a realização das maquetes dos dois imensos painéis (14 x 10m cada) para
a decoração do edifício sede da ONU, em Nova York , projetado por Le Corbusier, e em cuja
elaboração trabalhara Oscar Niemeyer. Os temas escolhidos para os painéis foram
a Guerra
e a Paz –
síntese das preocupações e objetivos primordiais dos trabalhos das Nações
Unidas.
Decorridos quatro anos de árduo trabalho, no dia 5
de janeiro de 1956 os imensos painéis foram entregues ao Ministério das
Relações Exteriores. Durante o período de sua realização, a imprensa do país e
do exterior acompanhou com interesse o trabalho do artista. Ao ser anunciado o
seu término, desencadeou-se imenso movimento de opinião pública liderado por
eminentes intelectuais, artistas e organizações culturais e até por sindicatos
operários desejando a exposição dos painéis no Brasil, antes de seu envio para
Nova York.
Atendendo a este clamor geral, o Itamaraty organizou
a mostra dos painéis Guerra e Paz, no
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, transformando-o no mais amplo salão de
exposição visto no Brasil até então, e no templo reverencial de um momento
específico de nossa contribuição à historicidade artística da humanidade.
No dia 27 de fevereiro de 1956, nas presenças do
presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, e altas autoridades,
de representantes políticos de todas as tendências, de intelectuais, artistas e
de eufórica multidão em clima de júbilo nacional, foi inaugurada a
extraordinária mostra.
Pouco mais de um ano depois, ante o secretário-geral
das Nações Unidas, Dag Hammarskjold, e representantes do Brasil, o embaixador
Cyro de Freitas-Valle e o ministro Jayme de Barros, em setembro de 1957, foram
inaugurados no edifício sede da ONU, em Nova York , os painéis Guerra
e Paz,
de Candido Portinari.
Considerações Gerais
Em 2007, marcando o cinquentenário da inauguração
dos painéis, o Projeto Portinari publicou o livro comemorativo da efeméride: Guerra
e Paz – Portinari. Nele, eu afirmara que os dois painéis constituíam
[...] um discurso visual uno em
sua complexa
complementaridade sobre os
extremos
da desgraça e da
bem-aventurança,
na trágica e comovedora visão
pintada por
Portinari.
Nas páginas da história da
arte, em que
surgem incontáveis guerras
datadas
e localizadas, como as de
Tróia, e do
Peloponeso pintadas por
Eufrônio, as
Batalhas de San Romano e
Anghiari, de
Paolo
Uccello e de Da Vinci, ou Guernica,
de Picasso, todas são narradas
por cenas
que as identificam, localizam e
datam.
Com os recursos próprios
ligados ao
tempo da pintura, cada uma
delas participando
da variada gama de conceitos
que vai do heroísmo à dor e ao
desespero
ou defendendo um solo, uma idéia
ou
uma causa que as
particularizam. A abordagem
de Portinari é outra. Não
identifica
guerra alguma, como se
afirmasse
que em essência todas se
equivalem no
desencadeamento de horror e
animalidade.
Nenhuma arma identificável, em
Portinari; a cavalgada apocalíptica
que
corta a cena em todas as
direções com
seu cortejo de conquista,
guerra, fome e
morte, não traz as cores
bíblicas do fogo
e do sangue, nem o preto, o
branco ou o
amarelo. É o azul que domina.
Uma trágica
e dorida sinfonia em azul,
passando
por toda sua escala. Os tons
escuros,
soturnos, ricos em variadas e
profundas
nuanças violáceas, desenham as
cenas
sobre fundo de claros azuis de
reflexos
verdátreos, tendentes aos leves
citrinos.
Contrastando com esse universo
azulado,
valorizando-o cromaticamente,
em contraponto
tonal, o cavalo manchetado de
carmim, a carnação de rostos,
braços e
pés saindo das vestes escuras
surgem em
vibrantes alaranjados que vão
das sombras
trevosas violáceas, aos quase
vermelhos
e rosas de intensa crepitação
luminosa.
Nesse clima de violentos
contrastes, de
soturna féerie,
o tropel ininterrupto liberta
as feras que aterrorizam o
mundo.
Estamos diante de um cataclismo
aterrador
em que os tempos remotos
confundem-se
com a origem dos tempos. Se
o terror
nos traz à memória reminiscências
de
anátemas de Luca Signorelli e
de Dürer, a
concepção, inventiva e fatura
nos trazem
de volta à realidade de uma
modernidade
intemporal.
Realçado por clara luz, um
eremita desnudo,
de pé em penitência, cobre os
olhos
com as mãos, em prece e
lamento. Figuras
em grupo compacto, genuflexo,
braços
levantados com as mãos
espalmadas e
rostos voltados para o céu,
nesse cenário
de morte deixam transparecer
uma aragem
de força e vida, de condenação
à própria
existência da guerra.
No painel Paz,
tal como acontece em seu par:
[...] são múltiplas as
reminiscências de
obras anteriores de Portinari,
como também
são vários os vestígios desses
trabalhos
em quadros posteriores do
Mestre.
O que significa dizer serem
eles elos coerentes
de uma imensa produção
pictórica
da mais alta representatividade
do poder
criador do século XX [...]. O
que emana
desse painel, nos enleva e
encanta, mais
que a idéia de paz e da paz, é
a própria
paz que nos invade ao
contemplá-lo. É a
sensação de penetrarmos num
universo
sereno, de comunhão fraterna no
trabalho
produtivo, num reino mágico de
cores reluzentes,
do som da ciranda de jovens num
canto universal de fraternidade
e confiança,
ou da candura dos folguedos
infantis. Com
todos esses tons dourados,
alegres, crepitantes
de vida, o pintor parece nos
dizer:
A paz universal é possível. Dia
virá em que
a humanidade desfrutará a paz
sem limites
no espaço e no tempo.
O livro Guerra e Paz – Portinari foi
publicado em dois volumes, com idêntica programação gráfica, em português e inglês.
War
and
Peace
– Portinari foi oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Sr. Ban-Ki-Moon,
momentos antes do pronunciamento do presidente da República do Brasil, abrindo
a 62ª Assembleia-Geral da ONU.
A exposição dos painéis Guerra
e
Paz
no
Theatro Municipal do Rio de
Janeiro
A realização da exposição dos painéis Guerra
e
Paz
de
Portinari no Theatro Municipal do Rio de Janeiro insere-se no clima de
crescente presença internacional do Brasil, não apenas na área econômica, mas
sobretudo no reconhecimento de nossos valores sociais em progressão, valores
intelectuais, morais e espirituais expressos em nosso amor à paz, à tolerância
no trato dos contrários, e nosso apego à arte, vivificado em todas as
manifestações do espírito nacional. A inimaginável, até então, vinda ao Brasil
dos monumentais painéis Guerra e Paz
de
Candido Portinari que ornamentam o saguão principal do edifício sede da ONU, em Nova York , só foi
possível graças a uma conjugação de fatores, destacando-se dentre eles:
Primeiro, a deliberação da grande
reforma do edifício sede da ONU, no período de 2010 a 2013. Período em que
as obras de Portinari teriam que ser removidas e abrigadas em outro local.
Segundo, a existência da modelar
organização do Projeto Portinari que idealizou e gerenciou, posteriormente,
toda a operação e motivou o governo brasileiro a solicitar e dar garantias à
ONU para o empréstimo dos painéis Guerra e Paz
a
serem expostos e restaurados no Brasil.
Terceiro, a existência nos mais
altos escalões da República, na Presidência, na Vice-presidência, no Ministério
das Relações Exteriores, no Ministério da Cultura e no BNDES de autoridades
sensíveis aos poderes e imperativos da Arte como manifestação insubstituível do
patrimônio intelectual, moral e psíquico da nação brasileira.
Parafraseando formulação que se tornara frequente
nos últimos tempos, podemos dizer que nunca na história desse país um governo
prestigiou tanto a cultura nacional, como o faz agora, com grande repercussão
internacional, em relação à obra de Candido Portinari.
O exemplo maior desta prestigiação está expresso na
parte final da histórica fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na
abertura da 62ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em que ele diz:
Senhoras e senhores, ao entrar
neste prédio,
os delegados podem ver uma obra
de arte presenteada pelo Brasil
às Nações
Unidas há 50 anos. Trata-se dos
murais
Guerra e Paz, pintados pelo
grande artista
brasileiro, Candido Portinari.
O sofrimento expresso no mural
que retrata
a guerra nos remete à alta
responsabilidade
das Nações Unidas de afastar o
risco de
conflitos armados.
O segundo mural revela que a
paz vai muito
além da ausência da guerra.
Pressupõe
bem-estar, saúde e um convívio
harmonioso
com a natureza. Pressupõe
justiça
social, liberdade e superação
dos flagelos
da fome e da pobreza.
Não é por acaso que o mural
Guerra está
colocado de frente para quem
chega, e o
mural Paz, para quem sai. A
mensagem do
artista é singela, mas
poderosa: transformar
aflições em esperança, guerra
em paz,
é a essência da missão das
Nações Unidas.
O Brasil continuará a trabalhar
para que
esta expectativa tão elevada se
torne definitivamente
realidade.
Muito obrigado.
Apoteose da Paz
Por imensuráveis que sejam as distâncias e o número
de estrelas e de seus incontáveis planetas e satélites pelas infinitas galáxias
na imensidão cósmica, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na noite mágica da
inauguração da exposição dos painéis Guerra e Paz
de
Portinari, trazidos por empréstimo temporário da sede da ONU, NY,
transformara-se no epicentro artístico do universo. Impossível pensar que
naquele momento, em qualquer outro corpo celeste, a arte e tudo o que possa
haver de superior e sublime no universo estivessem sendo celebradas com tal
efusão apaixonante. Se seres de inteligência igual ou superior à existente aqui
existissem ou existirem em tais espaços siderais, por certo, reverenciariam o
magno espetáculo montado por uma obstinação filial apoiada por um presidente
operário, que se fez representar por eminente chanceler em meio a uma plateia
eufórica, interpretando em seu justo valor nossa mais vigorosa mensagem
artística, transformando-a em símbolo de uma cantata universal de paz.
A alegria reinante em todos os semblantes da
multidão que lotava o teatro, e que durante todo o período da exposição
envolveu o edifício com intermináveis filas, deixa transparecer o justificado
orgulho do reencontro de cada um e de todos com sua parcela da verdadeira alma
nacional e com os elementos precursores de seus almejados destinos
compartilhados na construção de um reino de perene paz e felicidade. Nem todos
tinham a mesma clareza sobre a extraordinária excepcionalidade do momento que
estavam vivendo, mas todos vislumbravam o privilégio que teriam pelo tempo
afora de poder afirmar: “Eu estive lá!” Seguramente, a memória nacional
guardará para sempre a lembrança do espetáculo de interação de todas as artes
no palco do maior teatro da “cidade maravilhosa”. Precedendo o desfile da
multidão diante da magistral obra de um dos maiores pintores de todos os
tempos, desenrolava-se o documentário de Carla Camurati, seguido pela dança de
Ana Botafogo e Alex Neoral, coreografada por David Parsons; o canto de Milton
Nascimento, a sonoridade de Villa-Lobos trazida pela Orquestra Sinfônica
Brasileira Jovem. Magnífico e bendito planeta este, em que a luminosidade
impera, e que em suas entranhas a matéria em seu mais elevado estágio de
perfectividade produz sonho, ideal e beleza, em que, mesmo entre suas diatribes
intestinas e dolorosas etapas do parto do alvorecer de um Novo Mundo, fascinou
o primeiro terráqueo a contemplá-lo do cosmo, arrancando-lhe a indelével
exclamação: “A terra é azul!” Tão azul como o descrito por Drummond no poema
declamado por Fernanda Montenegro naquela noite majestosa, diante dos painéis Guerra
e
Paz:
“e nada mais resiste à mão
pintora [...]
a mão-de-olhos-azuis
de Candido Portinari.”
(PEDROSA, Israel. O Pintor do
Novo Mundo. In: Revista Direitos Humanos.
São Paulo: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República do
Brasil, 2012. p.14-20).
Divilgação cultural
(clique na imagem para ampliar)
tudo a ver o tema guerra e paz com o clip da banda teatro mágico!
ResponderExcluirmuito irado!
Li o texto todo com grande atenção. Eu que já estava convencido da importancia e genialidade de Portinari, agora me convenço da capacidade do autor Israel Pedrosa.
ResponderExcluirParabéns por tudo!
Clóvis Lantra
Caro Kahlmeyer,
ResponderExcluirFico admirado com suas "entradas": Portinari, Pedrosa, Teatro Mágico!
Você é o cara!
Lucas Mendes
Não resta dúvida que Portinari, por sua obra, foi um dos maiores brasileiros que já tivemos!
ResponderExcluirCaro Kahlmeyer,
ResponderExcluirGostei muito de lhe conhecer ontem na entrega do prêmio da ANE. Você é muito jovem, mais jovem do que eu pensava, e, ainda assim, seu trabalho é admirável!
Li aquele seu livro sobre Pimentel e imaginava que fosse obra de um homem sessentão!
Conhecer você me lisongeou muito! Continue carismático e produzindo boa cultura como na postagem de hoje.
Um fraterno abraço,
Sandra Gomes Leal
O texto do Israel Pedrosa é tudo de bom!
ResponderExcluirQuanta erudição artística.
Digna da obra de Portinari.
O blog fez muito bem em publicar.
Tem excelente nível o texto do pintor Israel Pedrosa!
ResponderExcluirFez muito bem em veicular este material aqui em seu blog, Kahlmeyer.
Abraços,
Sônia Lobo
Portinari é mesmo grandioso! Verdade seja dita!
ResponderExcluirParabéns, Israel Pedrosa! Um forte abraço.
ResponderExcluirP.R.Cecchetti