quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um canto/conto de sereia segundo Lampedusa


Em ritmo de Ano da Itália no Brasil, terminei de ler, por esses dias, a coletânea O senador e a sereia.
Conhecido apenas dos leitores mais dedicados, seu autor, Giuseppe Tomasi Di Lampedusa é, segundo entendo – e sem favor algum – um dos grandes mestres da literatura do século XX. Para que confiram se esta minha posição judiciosa procede, disponho aqui o link para o Blog de Alfredo Braga, onde o leitor poderá ler o conto que dá nome ao livro. O texto é longo, mas vale a pena ir até a última palavra.
Ao final da leitura, desafio o leitor mais cético a achar o tema das sereias pueril, e a não acreditar nesses seres mitológicos depois da prosa verossímil de Lampedusa. O conto é uma aula de persuasão literária!

 


Clique AQUI para ler O senador e a sereia.





Giuseppe Tomasi di Lampedusa (Palermo, 23 de dezembro 1896 - Roma, 23 de Julho 1957) foi um escritor italiano. Membro de uma das mais tradicionais famílias sicilianas, príncipe de Lampedusa e duque de Palma, combateu na Primeira Guerra Mundial. Sua obra-prima, O Leopardo (Il Gattopardo) foi sucessivamente recusada por editoras italianas mas quando foi publicada após a morte do autor, transformou-se imediatamente em sucesso de público e crítica.


 

Divulgação Cultural
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domingo, 23 de outubro de 2011

Um pouco de humor para a semana começar bem...

Contradizendo os juízos de que o Blog Literatura-Vivência é sisudo demais e que não tem paciência para o chiste, não sendo audiência para o bom humor, eis aí um dos textos de sátira às afetações da dita cultura "descolada". O texto é antigo (e desde a década de 2000 circula pela internet) mas a piada é atualíssima.

Postagem dedicada ao Sandro Rebel


O Abapuru, de Tarsila do Amaral


A primeira festa de aniversário de Mano Wladimir



Por Vladimir Cunha


(Em tempo: Mano Waldimir é o nome do filho da Marisa Monte.)

Mano Wladimir está tenso. No colo da mãe, Marisa Monte, ele ainda não conseguiu entender exatamente o que está se passando. Ao seu lado, Carlinhos Brown conversa com Wally Salomão, que cita uma poesia de Caetano Veloso, que dá um brigadeiro orgânico (sem chocolate e sem leite condensado, cortesia do buffet Doces Bárbaros) para Zeca, que leva um pito da mãe, Paula Lavigne. Mano Wladimir está tenso. É a sua primeira festa de aniversário.

 “Criança sã
De uma rã
Guardiã
Eu sou seu fã
Na manhã
Aramaçã
Cunhã”.

A música infantil escrita por Arnaldo Antunes especialmente para a festa é a trilha sonora da dança das cadeiras. Nada da Turma da Mônica, nada de atores desempregados vestidos de Pikachu. Aqui a coisa é diferente. MM resolveu ser mãe em grande estilo e contratou a Companhia Bufa de Artes e Performances do Absurdo para animar a festa.
Fantasiado de Ed Motta, um ator recita de trás para a frente toda a obra de Eça de Queiroz para algumas crianças. Do outro lado da sala, um grupo de clowns (sim, porque numa festa como essa é proibido ter palhaço) ensaia uma volta à posição fetal enquanto ostenta reproduções dos parangolés de Hélio Oiticica.
Num canto, Carlinhos Brown dá uma entrevista para uma repórter da revista Bravo, escalada especialmente para cobrir o evento.

" - E aí, Brown? Está feliz com o primeiro aninho do Mano Wladimir?"

"- É uma coisa da modernidade nagô, no que tange a referência espaço/tempo do ciclo da história humana. O cósmico supremo da realização superlativa, a poética da bioenergia enquanto motor da sublimação ótica. É onde o eu e o tu fundem-se na epiderme inconsciente."

"- E o que você deu de presente para ele?"

"- Pensei na questão do pacifismo, na guerra como catalisador das emoções humanas ao mesmo tempo em que atrai e repudia o ser. A máquina ceifadora que gera vibrações orgônicas, que tangencia e descontinua a unidade solar dos povos."

"- Como assim?"

"- Eu dei um boneco dos Comandos em Ação…"

Enquanto as crianças não podem comer o bolo de cenoura, aniz e mel de cana que traz estampado uma reprodução de O Abaporu, de Tarsila do Amaral, em sua cobertura – Marisa Monte serve a elas copos de suco de gengibre e balas de cravo da Índia. Até que Paula Lavigne tem a ideia de chamá-las para um  karaokê. Quem começa a brincadeira é Benedito Tutankamon Pedro Baby, cinco anos e filho de um dos roadies de Arnaldo Antunes, que canta O Avarandado do Amanhecer, de Caetano Veloso. Em seguida é a vez de Zabelê Tucumã Nhenhé Çairã, três anos e filha da empresária de Carlinhos Brown, que canta Ana de Amsterdã, de Chico Buarque. Ao saber que a próxima criança a cantar é a impronunciável Zadhe Akham Mahalubé Sinosukarnopatrionitnafilewathua, filha da copeira de Marisa Monte, Paula Lavigne acha melhor suspender o karaokê.

É hora do Parabéns a Você. Os convidados reúnem-se em torno da mesa. E então, Marisa Monte anuncia uma surpresa: quem irá cantar o Parabéns é Carlinhos Brown. Brown, que andava meio sumido depois de sua entrevista para a Bravo, aparece vestido com um cocar feito de canudinhos de plástico, uma camisa de jornal e uma tanga de folhas de bananeira. Atrás dele, 315 percussionistas da Timbalada, um videomaker e quatro poetas marginais. Brown pega um garrafão de água mineral e começa a cantar sua versão para Parabéns a Você:

"- Vim para cantar
A tropicália alegria de um povo
Azul, badauê, zumbi
Ela não me quer
Mas sou um tacle regueiro
Viva o divino samba de João
Monarco na rua
Meu bloco chegou."

Arnaldo Antunes se empolga e começa a recitar poesias descontroladamente, Marisa Monte gorgeia e improvisa algumas melodias, a Timbalada toca um samba-reggae, Paula Lavigne cai na farra e Caetano acha tudo “lindo”. O videomaker filma e Wally Salomão escreve o release. Os poetas marginais aproveitam a confusão para roubar uns docinhos.

Um executivo de uma grande gravadora, que entrou de penetra, contrata todos os presentes e promete CD, DVD, livro, críticas favoráveis no New York Times, participação de David Byrne e especial de televisão. Para comemorar, Arnaldo Antunes põe um disco de Lupicínio Rodrigues. O ator vestido de Ed Motta cospe fogo. Marisa Monte lê Mário Quintana em voz alta.

Mano Wladimir chora. É a sua primeira festa de aniversário.




Divulgação Cultural
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