
Será tim-tim até o domingo da semana que vem...
Foto: Carolina Tavares (Praia de Icaraí - Niterói), Blog: Café com canela
Um reencontro
Sandro Pereira Rebel
Há casos em que os encontros
que revolvem tempos idos
acabam em desencontros
confusos e doloridos.
– Lineu! Oh, Lineu, que prazer revê-lo!
E o Lineu não se fez de rogado. Bastou-lhe olhar-me uma só fração de segundo para corresponder por inteiro a toda a efusão do meu abraço:
– Mas é você mesmo? Nem acredito! Quanto tempo, meu Deus!
– Poxa, Lineu, que felicidade! Por onde andou? Vamos, me conta. Afinal, 40 anos, no mínimo, já se passaram desde que nos vimos pela última vez, não?
E daí pra frente o papo correu solto, entre um chopinho e outro no primeiro bar que encontramos nas imediações. Foi um tal de perguntar por fulano e por sicrano e por beltrano, que não tinha mais fim. E – o que é pior – o mais das vezes, as respostas, quer do meu lado, quer do lado do Lineu, eram quase sempre as mesmas: nunca mais vi; soube que andava muito doente; vi outro dia, coitado, nem parecia aquele...
Até que, em determinado momento, o Lineu se dirigiu a mim chamando-me, pela primeira vez, pelo que supunha fosse o meu nome:
– Mas, e você, Eduardo, meu caro Dudu, o xodó das liceistas, me fala mais de você, da família, do que tem feito, de como, enfim, tem sido a sua vida.
Já por aí, vêem, a coisa começava a complicar-se: o Lineu tinha trocado meu nome... Mas, pensando bem, que importância tinha isso? O importante eram as boas lembranças que ele estava me trazendo. Aliás, só agora percebo, eu também não era capaz de jurar que o nome dele fosse mesmo Lineu. Não seria Alceu?
Resolvi, então, assumir convicto o papel do Dudu e continuar recordando outros amigos comuns que, àquela altura, conseguiam ainda não ter sido mexidos naquele cipoal de cinzas que estávamos revolvendo.
– E o Jarrinha, tem notícias dele?
– Ah, o Jarrinha! Que apelido mais louco, né? Pois você não soube, Dudu? O Jarrinha já se foi há uns três ou quatro anos. Câncer, sabe. E no fígado, quer dizer, em poucos meses se acabou, coitadinho! Era um bom menino. Um tanto descabeçado, mas, no fundo, um bom menino sim. Que Deus o tenha, né?
– É – concordei –, que Deus o tenha.
Mas, a partir daí, obviamente, a conversa já não prosseguiu tão animada nem aquele reencontro continuou sendo tão festejado. Afinal, Jarrinha era nada mais nada menos que o meu apelido dos tempos de Liceu lá na minha cidade natal, a gloriosa Campos dos Goytacazes...
Divulgação Cultural
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"Luís Antônio Pimentel - 100 anos em foco", uma retrospectiva da vida do jornalista, professor, historiador e poeta Luís Antônio Pimentel que, em 29 de março, completa 100 anos! A exposiçãoacontece no Solar do Jambeiro, com vernissage no dia 22 de março, 5ª feira, às17 horas. A curadoria é do fiel amigo e também poeta, Paulo Roberto Cecchetti.No dia 19 de abril haverá um "talk show", às 16 horas, com a presençado homenageado. A exposição fica aberta para visitação até 29 de abril,domingo, no horário de funcionamento do Solar. Na foto um bico de pena dosaudoso artista plástico Miguel Coelho com haicai do Pimentel.
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