terça-feira, 17 de julho de 2012

Convite para o relançamento de "Presença da Cultura Fluminense", na primeira feira de livros da ANEL




Capa da segunda edição de Presença da Cultura Fluminense, de Horácio Pacheco.


No próximo dia 21, durante as comemorações de aniversário de 95 anos da Academia Fluminense de Letras, será relançado o livro “Presença da Cultura Fluminense”. O livro registra uma palestra de Horácio Pacheco (que foi Presidente da Academia Niteroiense de Letras por décadas e membro de outras instituições como a Academia Fluminense de Letras e do Instituto Histórico Geográfico de Niterói). Tal palestra, feita às vésperas da fusão do estado da Guanabara com o antigo estado do Rio de Janeiro, externa os anseios de mestre Horácio diante da nova situação cultural que seria criada naquela ocasião. Trata-se de um livro histórico, portanto!
A nova edição organizada por R. S. Kahlmeyer-Mertens (membro da AFL que também assina o prefácio desta segunda colação), conta, ainda, com o prefácio da primeira, de autoria de Lyad de Almeida e com um texto de apresentação/justificativa da edição, assinado por Luiz Augusto Erthal (Publisher da Nitpress, por onde o livro será editado). 
Esta nova edição denota o esforço de novas e antigas gerações por retomar o melhor da literatura fluminense e, por meio desta, a identidade cultural do estado do RJ.



Divulgação Cultural
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segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Decálogo da Velhice", por Wanderlino Teixeira Leite Netto






Decálogo da Velhice



1) No aconchego do útero, a Velhice começa a tecer sua teia.
2) Descartada a sedução dos eufemismos, Velhice é Velhice mesmo e como tal deve ser vivenciada.
3) A Velhice suaviza-se pela aceitação do inexorável e pelo desejo de agir na construção do ainda possível.

4) Qualquer pessoa tem o direito de assumir a Velhice e de expor, sem constrangimentos, as marcas do tempo.

5) Idade avançada, por si só, não impõe respeito. Os canalhas também envelhecem.

6) Ao velho são permitidas, anualmente, meia dúzia de ranhetices e igual quantidade de impertinências, pelas quais será perdoado sem necessidade de penitências.

7) São prerrogativas do portador de Velhice pijama de flanela e meias de lã para esquentar o corpo e afeto de netos para aquecer a alma.

8) A quem envelheceu é facultado cozinhar o presente em fogo brando e o futuro em banho-maria.

9) O sonho não é privativo do jovem. Também ao velho reserva-se o privilégio de adubar quimeras.

10) Envelhecer com dignidade é caminhar serenamente em direção ao crepúsculo.




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domingo, 15 de julho de 2012

"Icaraí", crônica de Ricardo Augusto dos Anjos




Canto do rio de Icaraí, Niterói, RJ. 



Icaraí (1961) 


Fui ontem à praia. Parei na calçada, olhando a mim mesmo, eufórico, entre Wanda, Marly, Eduardo, Ludmila e outros. O sol dourava corpos e colocava em cada coisa a cor adequada. Lentamente, a paisagem ia se formando bem perto do mar, nem verde, nem azul. Dava maior atenção a Wanda, a quem amava e ainda hoje guardo na memória, um tanto triste e amargo.
Da praia até a rua onde Wanda morava, em tempos de verão, o caminho era claro e perfumado pela brisa leve que soprava do mar, carregada de iodo. Isso me alegrava e a ela também. Nossos sentimentos pareciam explodir e as palavras trocadas sonoras e irisadas de amor, de paixão. O diálogo sempre terno conduzia-nos a uma atmosfera de sonhos e impossibilidades. Grande a nossa atração – corpos banhados de sal recente, na livre comunhão com o mar.
“Ricardo, procurei por todos os meios compreender-me primeiro, para fazer uma revelação menos chocante, a fim de evitar prantos. Chorei muito ontem, ao ver o voo lindo das gaivotas sobre omar. Você estava com toda a razão acerca daquele sinal geométrico que você desenhou na areia e que eu apaguei logo com minhas mãos nervosas. Ludmila sabe de nossas angústias. Mais das minhas, talvez. De mim, posso dizer que sou triste-alegre ou alegre-tristonha. Uma boba que sou, é a verdade. Uma coisa: meus olhos nunca mentiram a você. Sei que você exigiu definição. Daí aquele despedir rápido, com muito medo do amor que surgia forte, prenúncio de algo que suspeitava estranho e que em absoluto não merecíamos. Agora, sinto o entardecerde tudo, inclusive de nós. Dormi profundamente e despertei num mundo diferente; sem mar, sem você. Escrevo, porque há séculos você espera uma satisfação de minha parte, tenho certeza. Confesso que escrevo com medo do malque possa causar. Aproveito o momento, pois acho-me lúcida. Lúcida, mas com medo. As crianças estão impossíveis, aguardando o pai. O apartamento é razoável e você nunca deverá me visitar. Um abraço e tchau.  Wanda – PS.: Disse estar lúcida. Puro engano. Meus olhos secaram, Ricardo, mas estão à espreita da primavera”.
Corri ao encontro de mim e bati nos ombros dele. Levava-lhe acarta. Pareceu não me notar.  “Sou eu, sou eu!” – disse-lhe repetidas vezes.
Olhares me consumiam na manhã tropical e surpreendi-me traindo amim mesmo, ao outro que era eu. Wanda percebeu e ficou confusa, a ponto dese denunciar totalmente. Ela adivinhava, naquela hora, todo o futuro e reconhecera o papel que eu trazia, já meio amassado, numa das  mãos. Num gesto silencioso apontou-me Ludmila, que sorriu, cumprimentando-me. “A verdade, amigo, só muito depois”.
Não pude evitar o que estaria por vir. Ele insistia e era feliz. Olhei-os: no mar, deitados na balsa colorida, flutuantes e descontraídos, Wanda e o outro que era eu respiravam fundo, fixando o céu. Lembrei, então, das margens floridas de um caminho que idealizei para nós dois. Mas a realidade sempre me deu socos na boca do estômago. Aliás, o mal-estar era o mesmo que.
Ludmila já revelou o mistério. Nesse momento, regressei a mim na calçada da praia e notei os gritos trágicos que as gaivotas emitem antes do mergulho solitário.





Divulgação Cultural
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