Entre a singeleza das parábolas orientais e o realismo dramático
de Giacomo Puccini, a “butterfly” fica, hoje, a cargo de Luiz Calheiros.
Bom fim de semana:
Conto-lhes uma historinha, de autor desconhecido. É provável que a
conheçam. Chama-se: “A borboleta azul”.
Havia um homem muito culto capaz de responder sem erro a qualquer
pergunta. Uma garota sagaz resolveu inventar certa situação, armada de tal modo
que ele não lograsse acertar. Escondendo na mão uma borboleta azul, indagaria
ao mestre se ela se encontrava viva ou morta. Se ele dissesse estar morta, a
menina a deixaria voar. Provaria, assim, o erro do sábio. Se a resposta, ao
contrário, fosse estar viva, a menina a apertaria, matando-a. Comprovaria,
então, que aquele sábio se enganara. Desta maneira, qualquer que fosse a sua
resposta, ele estaria errando.
Certa de que criara um inteligente artifício, a jovem previa derrubar a
fama do homem, considerado, até então, verdadeiro gênio. Acercando-se dele na presença de várias
pessoas, perguntou:
– Seu sábio, eu estou aqui com uma borboleta azul na mão. Será que o
senhor pode me dizer se ela está viva ou morta?
Calmamente, o homem sorriu e respondeu:
– Depende de você. Ela está em suas mãos...
Assim, dizem, é a existência humana.
Pousam em nossas mãos muitas borboletas azuis. Podemos soltá-las... ou retê-las.
Cabe-nos escolher o que fazer com elas. Somos livres para decidir. O arbítrio
nos pertence. Ao longo dos anos,
liberamos ou preservamos várias delas.
Mas essas
borboletas azuis que nos chegam, de onde procedem? São elas mesmas que resolvem aonde ir? É de cada uma o desejo de procurar o próprio abrigo,
arriscando-se à decisão de serem esmagadas por outrem?
As oportunidades, com as quais a vida nos brinda, são muitas vezes prazerosas. Confiáveis. Estão,
suave e silenciosamente, escondidas entre nossos dedos. Estas, com carinho, merecem ser acolhidas. Aceitam o calor dos afetos. Permanecem
conosco. Sentem-se protegidas. Mas,
sobretudo, dependem de nossas escolhas. De nossas decisões.
Por isso, já outras –– fugazes, efêmeras, transitivas – , evitamos prendê-las. Partem. São asas saídas
do nosso aconchego. Talvez busquem pousar
em mãos alheias. Ou prefiram esvoaçar no indefinido espaço da
vida. Algumas nos alcançam e adejam por ordem superior do
Destino. São também azuis. Encantam-nos com seu colorido.
Não nos compete, contudo, torná-las livres ou impedi-las de voar.
Cumpre-nos,
simplesmente, submeter nossa existência à mágica força de seus ditames. Sempre
rigorosos. Inflexíveis. São acontecimentos que fazem sentir o quanto é penoso
afrontar o que nos é destinado: dúvidas, inquietações, medos e inseguranças...
Contudo, também, certas alegrias...
Assim, perguntamos: em que medida, nós
somos agidos ou agentes dos atos praticados? Esta, a grande questão bipolar: o Livre Arbítrio
ou o Destino? Aquele, submisso à nossa
vontade, ingenuamente soberana. Este, implacável
dominador dos desejos, refreando nossa falsa liberdade. Ambos, valem-se das
cativantes borboletas azuis, frágeis símbolos das utopias humanas. E nós, eternos hospedeiros de seus sonhos.
Por acaso, o sábio da reflexiva história, que lhes contei, conseguiria indicar, com inconteste certeza, qual das situações
existenciais, a verdadeira?
Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)
Tutorial para postagem:
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3) No quadro “Editar perfil”, escreva seu “Nome:” na primeira lacuna e desconsidere a outra (“URL” é só para quem tem site na internet, isso não influi em nada).
4) Aperte o botão “Continuar”
5) Escreva, agora sua mensagem no quadro em branco.
6) Ao fim, certifique-se que não haja nenhum erro e aperte o botão “Publicar”.
7) Logo em seguida aparecerá a mensagem de que seu comentário será publicado logo após passar pelo mediador.
8) Em alguns casos (não é sempre) o blog pede uma confirmação para ver se não é um robô que está enviando o texto. Neste caso, é só copiar as letras de código que aparecem na tela.
Mais uma bela colação de Literatura Vivência. A cultura de Niterói se fortalece com a atuação deste jovem intelectual que é o Roberto Kalhmeyer.
ResponderExcluirAdorei conhecer o Luiz Calheiros. Obrigado por nutrir nossas almas com tão boa cultura!
Odette Pacheco
Parabéns ao Luiz pelo plástico conto!
ResponderExcluirRoberto, nunca deixe de fomentar a cultura de Niterói.
Ao publicar autores como a Belvedere Bruno, a Márcia Pessanha e o Luiz Calheiros Niterói se destaca nas artes e nas letras.
Walnilce Andrada
Bom Texto!
ResponderExcluirRocco
Gosto muito das letras do Calheiros. Parabéns pela postagem, Roberto. Abraços, Calheiros!
ResponderExcluirBelvedere
Nada como boa literatura num dia chuvoso!
ResponderExcluirObrigado, Luiz Calheiros.
Sucesso!
Hehehe... O clipe da Madame Butterfly é meio safadinho, não é não?
ResponderExcluirOlga
Parabéns, Luiz Calheiros e Roberto!
ResponderExcluirO 1º pelo belo texto; o 2º por divulgar nossa ANL-Academia Niteroiense de Letras, através dos seus confrades.
Aproveito para destacar a divulgação dos eventos da ANL e a confraternização da vitória de Calheiros, na página 2 / Coluna CULTURA, do Jornal DIZ, na edição de 09 a 23/06/2012. Att.
P.R.Cecchetti
Excelente texto. Melhor ainda o videoclipe. A analogia, o simbolismo do corte umbilical, a perda de um ser gerado ou exagerado nas entranhas da mãe, o rapto, o furto do fruto de um fortuito ato de amor,
ResponderExcluirde uma paixão. E surpresa maior: a tecnologia do haraquiri. Aliás, a tecnologia da animação é de uma beleza plasticidade incrível.
Parabéns pela postagem neste cultíssimo blog.
Saudações daqui de Nova Petrópolis a Zero grau C.
Ricardosanjos
Um grande prazer ler o texto do Calheiros. Ele mesmo, um homem sábio. Escrito com leveza, ritmo e simplicidade, o que não é fácil, esse texto é um delicado brinde neste dia chuvoso.
ResponderExcluirCarlos Rosa Moreira.
Sim! Cultíssimo Blog!
ResponderExcluirParabéns ao autor de hoje. É a primeira vez por aqui, não é?
Marthinha
Khalmeyer, Não conhecia o autor.
ResponderExcluirPoste algo mais dele.
Abraços do admirador,
Kleber
Errata no meu comentário: quis dizer "beleza plástica" em vez de "beleza plasticidade"...
ResponderExcluir[s]
Ricardosanjos
Roberto,Aqui não é o lugar próprio. Perdoe-me,porque meu assunto nada tem a ver com sabios-arbítrios e borboletas.Mas tenho a certeza de que nossos amigos escritores saberão me compreender e perdoar.
ResponderExcluirQuero abraçá-lo e parabenizá-lo pela eleição de ontem que o tornou um importante Imortal da Academia Fluminense de Letras,à qual você virá sempre abrilhantar. Felicidades!
Nicoleta cavalcanti pereira rebel
Roberto,
ResponderExcluirmuito bons e agradáveis de ler os textos e Márcia Pessanha e de nosso mais recente colega de ANL, Luiz Calheiros.
Abç. Gilson
Caramba Roberto
ResponderExcluirEleito para a Academia Fluminense de Letras!!!
Agora ninguém te segura!
O próximo passo qual será?! A Brasileira?!
Tenho muito orgulho de Você!
Da amiga
Wanda Salis
Pow Roberto, você na Academia Fluminense de Letras e não diza nada!!!
ResponderExcluirO pessoal lá de casa já está sabendo?
Receba os parabéns do irmão orgulhoso!
Ricardo
Como todo sábio, o da história é lacônico. Caladão. Deixam o discípulo descobrir sozinho, mesmo que gaste 50 anos. Mas, aí, babau.
ResponderExcluirLuis Calheiros resolve, então, dar uma mãosinha e oferece suas preciosas reflexões em belo e suave texto. Ele mesmo, não dando soluções definitivas, claro. Coisa de sábio.
E o belíssimo filme que Roberto K. ilustra Calheiros?, Comentar a elegância da produção, da direção das belíssimas imagens, enquadramento, grafismo, o clima perfeito, poderá ser um enorme prazer, como uma xícara de chá quente nesta tarde quase fria e chuvosa. Mas vou ficar com o chá. Meu amigo Ricardo dos Anjos já fez o trabalho. O seu comentário, despretencioso, sintetiza o que de melhor se pode dizer dessa história tão humana quanto real, acontecida no isolado e misterioso Japão de 1870, que Puccini imortalizou em sua obra.
Abraços aos amigos que compartilham seus valores. E ao Ricardo, sinta daí, nesse zero grau do Rio Grande, o calor dos seus amigos daqui, da Taba.
Will Martins
Will,
ExcluirNeste momento de resposta agradecida e engrandecida pelo virtual calor amigo manifestado, eis aqui à minha frente uma atraente garrafa de um fino tinto seco, cabernet, da melhor safra da Serra Gaúcha, onde me encontro a 3ºC, seduzindo-me, na expectativa da degustação.
E é pra já!
Vin d'Honneur pra selar nossa amizade.
Saúde !!!
Recomendações a Liane e Agatha (lá).
Ricardosanjos
Profundo bom gosto em tudo.
ResponderExcluirCumprimento o novel membro da ANL por " cintilazular" sua escrita com borboletas existenciais - símbolos da alma - no excelente Blog do Roberto!
ResponderExcluirAlém de reconhecido mestre de suspense, Calheiros filosofa, com real propriedade, sobre a questão do Livre Arbítrio e do Destino. Este, aliás, um dos seus motivos recorrentes.
Dalma
As histórias orientais, tidas algumas vezes como fábulas, sempre me encantaram por suas reflexivas e inteligentes mensagens filosóficas. Vocês conhecem a intitulada “Uma xícara de chá”? Um dia eu conto.
ResponderExcluirA história da Borboleta Azul, recontada e analisada com habilidosa sensibilidade literária, própria do Calheiros, autor de romances de grandes reflexões sobre a nossa humanidade, soou-me quase um canto litúrgico. Contemplativa fiquei, quiçá, também, pelo envolvimento de um dia que amanheceu propício ao recolhimento...
Pano de fundo ao Calheiros, um inteligente e expressivo clip, a imortal “Butterfly” de Puccini. Emocionante conjugação de criativos valores.
Congratulações para você Luiz Calheiros!
Parabéns ao Literatura-Vivência!
Devagar quase parando... parece não ter dado muito ibope esta postagem...
ResponderExcluirTalvez seja a chuva, que "encolhe" todo mundo.
ExcluirDeu excelente IBOPE, amigo!
ExcluirMarcelo Lopes
Roberto, parabéns por três motivos.
ResponderExcluirPrimeiro: por sua recém-eleição para a Academia Fluminense de Letras. Mais um passo importante no seu "curriculum". E disso só soube pela oportuna mensagem da Nicoleta no seu Blog.
Breve, quero encontrá-lo no PEN. Depois, outras vitórias ainda mais altas virão...
Segundo: pela requintada homenagem, com justiça, ao texto do Calheiros! Ainda neste ano, ele lançará mais dois livros, aumentando a sua já extensa produção.
Terceiro: pelo seu Blog, um divulgador cultural de Niterói para o mundo! Você edita três ou até quatro postagens na mesma semana. Ufa! Tarefa hercúlea!
E com filigranas de detalhes, congregando várias Artes.
Minha sempre admiração.
Dalma
Calheiros, sua história é uma parábola do dilema da vida. Mas, ainda que em situações de cativeiro, há um espaço de liberdade possível, que a gente pode conquistar. Um forte abraço e que você continue a nos brindar com essa veia poética. Rosa Lúcia S. Sebba.
ResponderExcluirCaro Roberto,
ResponderExcluirantes de tudo,um abraço pela chegada à AFL.Merecida sua
vitoriosa eleição.Aguarde as próximas.
E muito honrado pela postagem de meu texto. Aos que se manifestaram sobre ele, gratíssimo.
Obrigado, valeu.
Luiz Calheiros.
Kahlmeyer, qual será a nova postagem?
ResponderExcluirA partir de um conto de cunho psicológico, o escritor Luiz Calheiros recria o afrontamento entre dois condutores da existência : o livre arbítrio e o destino.
ResponderExcluirTranspondo a situação para a vida real, o autor, com sábia e serena sutileza - igual ao douto personagem central do relato - , conduz o leitor a questionar-se, numa tentativa de responder à grande inquirição final.
Calheiros, já o conhecia como bom romancista. Desejo encontrá-lo agora mais vezes neste blog, cujo gestor vem divulgando pelo Brasil afora lídimos valores da Literatura.
´
Parabéns a ambos .
Olívia Barradas
Luiz Calheiros, seu artigo merece uma apreciação bem feita, difícil até de análise. A história é fascinante com um conflito existencial do dia a dia. Deixou a escolha do final para o nosso livre arbítrio, como realmente são as tensões a serem resolvidas por todos nós. Mas, de repente, o destino muda tudo. E a humanidade fica à mercê do fluxo dos acontecimentos. Parabenizo o Professor Kahlmeyer pela publicação. Diva Maria Duarte.
ResponderExcluirCaro Calheiros,
ResponderExcluirCreio que viver seja mesmo ter entre os dedos uma borboleta azul. Se abrimos demais a mão, ela esvoaça; se a fechamos em demasia... Parabéns pelo belo texto.
Grande abraço,
Wanderlino
Calheiros,meu caro amigo e grande escritor,
ResponderExcluirParabéns pela escolha deste belo conto para brindar-nos e levar-nos à reflexão sobre a vida. Demonstra sua enorme sensibilidade.
Parabenizo, também, o Professor e escritor Kahlmeyer, ilustre membro da AFL, pela postagem e por seu excelente blog.
Elenir Moreira Teixeira