Convicto do brocardo
lobatiano segundo o qual “um país se faz com homens e livros”, tentei elencar,
de memória, aqueles títulos que eu acreditava representar bem a cultura
literária de Niterói. Consultando várias
pessoas ligadas ao meio acadêmico de minha cidade, foi curioso o fato de minha
lista coincidir com os títulos apontados por aqueles conhecedores de livros.
Diante desta coincidência (ou deveria dizer “feliz serendipidade”), animei-me,
sem maiores pretensões, a apresentar quinzenalmente alguns dos livros que
teriam, de algum modo, marcado a cena literária niteroiense. Livros que
trouxeram contribuições substanciais em alguma área, inovações, resgates,
celebrações de datas festivas da cidade e que, até, ficaram conhecidos pelas
polêmicas que causaram. Em todos esses
casos, o valor literário ou histórico foi o que deu o critério para essas
escolhas que – longe de serem completas – serão singelos afagos na cultura de
nossa cidade.
Em cada quinzena, o
leitor de Literatura-Vivência poderá
conhecer, no Projeto “Livros que marcaram
Niterói”, um pouco mais das nossas letras.
Você já teve um amor atravessado?, de Fernando de Aviz
Capa da segunda edição de Você já teve um amor atravessado? de Roberto Santos
Em
dezembro do ano de 1982, Niterói presenciou a publicação de um livro de
crônicas intitulado: “Você já teve um
amor atravessado?”. Seu autor, por sua natureza binada (poeta e cronista,
por um lado; educador e biólogo, por outro), assinava com o heterônomo de Fernando
de Aviz. (Nem precisa dizer que não é casual a escolha de Roberto Santos
Almeida pela alcunha de Fernando. Sim, Fernando
é homenagem a Fernando Pessoa, célebre vate português; de Aviz é declaração afetiva a sua descendência lusitana e
ligação ancestral com a província de mesmo nome. Fernando de Aviz é, assim, o alter ego de nosso brasileiríssimo
Roberto Santos que, além de ser autor do referido livro, preside, atualmente, a
veneranda Academia Brasileira de
Literatura – ABDL).
“Você já teve um amor atravessado?” foi editado pela Livraria Panorama em co-edição com Letras Fluminenses (a mesma casa editorial que expedia o jornal
literário homônimo de Luiz Magalhães) e é reunião de textos originalmente
publicados em veículos que, na década de 1970, circulavam difundindo a boa
literatura: é o caso da Revista Única
e do fanzine Persona.
Qual seria a importância deste livro
a ponto de figurar neste projeto que busca resgatar os livros que marcaram
Niterói? Ora, em primeiro lugar,
uma resposta como esta não poderia ser dada fora da atmosfera da data de hoje (um
dia dos namorados) e, depois, não poderia ignorar os subsídios que o próprio
livro fornece sobre sua importância. Vejamos, por exemplo, o que mestre Ângelo Longo
diz em uma das orelhas: “Cronista, ele (Roberto/Fernando) colige o tempo na permanência do livro que
ora se estampa como se pretendesse marcar um caminho, assinalar uma passagem,
significar um pouco. Artista, ele transcende o espaço da impermanência das
coisas como se pretendesse um pouso no signo, um significado na marca, um
caminho-passagem.” Também Ronaldo de Carvalho Miguel, Vital dos Santos e Pedro
Jorge Salvador (este último recorrendo a um arsenal conceitual que vai de Hume
a Barthes, passando por Kierkegaard e Weber) emitem pareceres sobre o livro.
Contudo, é Elzita Nely B. do Vale, em poucas palavras, que resume a importância
do livro nas experiências estéticas que ele evoca/provoca: “As imagens
inigualáveis de quem sabe dizer o que sente, dispensam qualquer outro comentário”.
“Você já teve um amor atravessado?”, em sua época, foi lançado no circuito literário niteroiense
e despertou o interesse da comunidade letrada. Sua forma poética em prosa com
linguagem simultaneamente culta e desafetada é, em parte, responsável pelo seu
êxito. Outros fatores responsáveis pela boa acolhida do livro?... Talvez o
carisma de seu autor, que ficou conhecido na década de 1980 como “o poeta do
amor”. No mais, sigamos o conselho de Elzita do Vale, poupemos comentários e
nos presenteemos com a leitura do Fernando de Aviz neste dia dos namorados:
(AVIZ, Fernando de. Quem namora, não mora... In: Você já teve um amor atravessado?. Niterói: Panorama/Letras Fluminenses, 1982. p. 28-29)
Heheheh. Esta música ficou meio datada; hoje, é até meio cafona, mas quem viveu a década de 70 sabe bem o que ela significava.
ResponderExcluirLembro-me de uma festa que fui na faculdade de medicina da UFF em 1972 que só deu ela.
A pegação foi geral Heheheheh!
Je t'aime... Je t'aime...
Cafona nada! A garotada se amarra no som do Serge Gainsbourg. Ele é o que se chama de "cool". A música já virou um clássico!
ExcluirGostei do texto do Fernando de Aviz, procurarei o clivro para ler.
Fazíamos parte de uma geração sensualista pra caramba.
ResponderExcluirLembro deste livro. Eu ainda tenho o meu autografado pelo Roberto Santos. A sessão de autógrafos foi na Pasárgada, ali em Icaraí.
Lá se vão 30 anos...
Foi um grande prazer relembrar dessas coisas boas pela via do rexto do Fernando de Aviz.
Muito oportuno, o "poeta do amor" num dias dos namorados.
ResponderExcluirO livro me pareceu interessante, tentarei encontrar mesmo sabendo que é uma raridade.
Parabéns aos dois Robertos.
Matilde Sobral
Maneiro o texto do Roberto Santos, vou ler para mina mina hoje.
ResponderExcluirA música do clipe é que é meio "mela-cueca"
Fui
Belo texto do Fernando de Aviz, o "nosso" Roberto. Texto pleno de sabedoria e doçura. Nada mais próprio para hoje. E determinados comentários me fazem ver o tempo... Ontem (muito ontem), nossos avós e bisavós ficavam loucos quando a ponta de uma saia voava e descortinava um pedacinho da perna da moça (Ah, Baudelaire...). Hoje as moças nos mostram tudo, e saia é só um detalhe. Ontem (faz pouco), a proibidíssima e discutidíssima Je t'aime moi non plus embalava nossos sonhos e malícias. Hoje, não passa de banal "mela cueca". O tempo passa...
ResponderExcluirCarlos Rosa Moreira.
Como inveterado e incorrigível e desde sempre e para sempre esperançoso e sonhador amante, posso garantir não o ser quem não atua, sente e espera como assevera a bela crônica.
ResponderExcluirBom dia, nobilíssimo Roberto.
ResponderExcluirHoje a noite será maravilhosa!
Veremos estrelas no céu
Faremos versos românticos
Falaremos só de amor e paz.
Feliz dia dos namorados!para todos.
Alberto Slomp e Yara.
Oi Kahlmeyer,
ResponderExcluirVi vc hj naquele programa da EdUFF "Unitevê". Gostei!!
Roberto
ResponderExcluirE agora ? quem vai me emprestar o livro? Aguçou meu fanatismo literário...
Belvedere
Lindo, Robertos!
ResponderExcluirKahlmeyer, você ainda não tem a dimensão da importância que este seu trabalho possui.
ResponderExcluirRoberto K.M.
ResponderExcluirTransmito ao Roberto Santos um abração pelo texto
escrito no século passado, quando os namorados
dançavam com seus rostos coladinhos.Era bem melhor,
com certeza.
Luiz Calheiros.
Caro Roberto,
ResponderExcluirA referência ao seu livro reportou-me aos velhos tempos da Pasárgada (não a do Bandeira, mas a do Aníbal Bragança). "Você já teve um amor atravessado?" tem lugar de honra em minha estante. Quanto ao autor, faz parte do rol de minhas amizades mais diletas.
Grande abraço,
Wanderlino
Querido Roberto Santos, pode me mandar, urgente, um exemplar do livro? Pombo correio, cegonha, moto boy, até ex mulher serve.
ResponderExcluir1 beijão, Márcia.
Bom dia, dinâmico Roberto.
ResponderExcluirAgradeço por suas importantes postagens e retribuo com "pérolas".
Atenciosamente,
Alberto Slomp.
Encantei-me sempre com as crônicas do Roberto Santos, sobretudo quando celebra o Amor e os mistérios de Pessoa.
ResponderExcluirDe há muito, no jornal LIG, coluna da querida Lou, eu o intitulei de "O Artur da Távola de Niterói".
Fiel escudeiro de Eros, Fernando de Aviz - igual ao mestre-cavaleiro da Távola - arredonda metáforas, cavalga semânticas à Demanda do Graal do Amor.
Oportuníssima, pois, Kahlmeyer, a "relembrança" deste livro que honra também a távola da intelectualidade local.
Dalma
Ahhhh... Tão bom!...
ResponderExcluirSempre busquei um espaço para dizer: para se entender, verdadeiramente, algum conceito, procurar um viés interpretativo para entender a vida das palavras? Poucas pessoas me satisfariam... com absoluta certeza o Roberto Santos, a Deila Peres...
ResponderExcluirNão conheço o Roberto de Aviz,
ResponderExcluirMas gostei da ideia do projeto!
Lindo texto, Fernando de Aviz, ou Prof. Roberto Santos, um prazer enorme conhecê-lo pessoalmente e ao seu inegável talento, grande abraço!
ResponderExcluirParabés, Roberto, pelo texto:Quem namora não mora...
ResponderExcluirO meu presente é minha canção preferida:"Emoções" de R.C.
Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções
Sentindo...