O
título evoca o livro que o saudoso educador e acadêmico Paulo de Almeida Campos
dedicou a Nova Friburgo – RJ, no ano de 1987. Entretanto, hoje, sob a mesma
legenda, temos aqui a obra de outro educador (advogado, jornalista, poeta) e
imortal da Academia Friburguense de Letras:
Humberto El-Jaick.
Nas
poesias de El-Jaick, temos um retrato lírico daquela cidade que – segundo a metáfora
de Rui Barbosa – seria a mais preciosa
esmeralda na coroa de nossas serras fluminenses.
Estejamos, pois, preparados para um pouco de memória e literatura friburguense e, por
extensão, fluminense.
(técnica mista, 29,7 x 42 cm) Exclusivo para o Literatura-Vivência.
Ouve estes versos - forasteiro amigo -
e podes crer em tudo que te digo
sobre a
minha Friburgo!...
Obra prima de graça e formosura,
ela
traduz a mais pulcra escultura
do Excelso Taumaturgo.
Nem de Platão a Atlântida desfeita
foi sonhada tão linda e tão perfeita
como o
que existe aqui!...
A Fonte
de Juvêncio, o Eldorado,
todo o
sonho do Homem do Passado
verás,
onde eu nasci.
Mas, se
acaso duvidas que a beleza
pode
espelhar-se, assim, na Natureza,
vê tu,
com os olhos teus!...
Visita minha terra e, sem despeito,
se
encontrares um único defeito
rasga estes versos meus.
Vê do
cimo da imensa Caledônia!...
Não teve a legendária Babilônia
“jardim
suspenso” igual.
Seria
das paixões a mais profana
comparar-se
a mais hábil mão humana
ao
Poder Celestial.
Percorre do Brasil este recanto
e hás
de sentir o mais sublime encanto
que pode um sonho teu!...
E, em
vendo o belo que Friburgo encerra,
dirás: - Eu vi, dentro da própria Terra,
um pedaço do Céu.
Fonte do suspiro
Não sei
se vêm do céu ou do cimo do monte;
sei
apenas que as gera o ventre do horizonte
em
mágico retiro;
depois
rolam riscando a densa e verde mata
qual um
raio de luz sobre um veio de prata
as
águas do Suspiro!...
Ninguém, logrou jamais, nem a própria ciência,
definir
a sublime e dolorosa essência
dessas
estranhas águas;
difere
o seu sabor ao sabor das criaturas:
para
quem é feliz são límpidas e puras;
para
quem sofre?! – mágoas.
Como se
a Fonte fosse um coração humano
a
jorrar sonho, e tédio, e desengano,
em
triste soledade:
ora
sobre uma flor, ora sobre um espinho,
as
águas vão rolando e dizendo baixinho:
Amor...
ciúme... saudade.
Lenda de Friburgo
Conta a História que Deus, supremo e inigualável,
quando o Mundo pintou, com divino pincel,
sentiu necessidade extrema e inadiável
de colocar na Terra um pedaço do Céu.
E pensou!... Pensou muito enquanto, imperturbável,
via e revia – Justo –
o sublime painel.
e, por fim, concluiu, com gosto incomparável,
que Friburgo seria o retrato fiel.
Para levar a termo a gigantesca obra
foi-lhe breve semana ainda tempo de sobra,
não precisou de ajuda o Operário-Engenheiro.
Seis dias trabalhou com todo o ardor e afinco:
gastou apenas um para
o Universo inteiro,
levou, para fazer Friburgo, os outros cinco.
Divulgação
Cultural
(Clique na
imagem para ampliar)
Olá professor Roberto. Beleza de poesias friburguenses. Aprendi a amar Nova Friburgo. Lá morei por sete anos quando estava no seminário para os estudos eclesiásticos. O quarto onde morei já não existe mais desde o doze de janeiro de 2011. Apenas um resto da biblioteca que ajudei a organizar quando lá estive. De fato, Nova Friburgo é encantadora. Por deixaram seus mais nobres Suspiros: Rui Barbosa e Carlos Drummond de Andrade. Um abraço. Mauro Nunes
ResponderExcluirMinha vida belas passagens na cidade de Friburgo. Parabéns, Poeta!
ResponderExcluirBelvedere
Roberto, os sensíveis e ultrarromânticos poemas de Humberto El-Jaick, peculiares à dicção da época, levaram-me a Friburgo e à infância. Aos laços/braços dos Braune, alicerces famliares. Ao busto do tio-avô benemérito, eternizado no bronze da praça.
ResponderExcluirOs versos tiveram o sabor das "madeleines proustianas" em busca do tempo perdido e do meu retorno a Combray, à Friburgo já enevoada na geografia do coração.
Obrigada pelo resgate do passado: pela escrita de El-Jaick, vulto de expressiva presença, e por minhas lembranças.
Dalma Braune Portugal do Nascimento.