Pronunciamento proferido por Wanderlino Teixeira Leite Netto na XV Bienal do Livro do Rio de Janeiro e na Livraria Icaraí nos dias 10 e 29 de setembro de 2011, respectivamente:
Congratulo-me com a Editora da Universidade Federal Fluminense (EdUFF) pelo lançamento de Miguel Coelho – desenhos e agradeço pelo convite que me foi feito para saudá-lo in memoriam.
Pouco se fala em Carlos Couto. Não são muitos os que se recordam de Manuel Fonseca e de Almiro Baraúna. Ouvem-se mirradas referências a Roberto Paragó, Aloísio Vale... mesmo a respeito dos Campofiorito (Quirino e Ilda), quase não se fala. Alaôr Scisínio, Lyad de Almeida, Jacy Pacheco, Angelo Longo, raramente são mencionados. Vale lembrar que Lyad foi o primeiro presidente do Instituto Niteroiense de Desenvolvimento Cultural, precursor da Fundação de Arte de Niterói, à qual se vincula a editora Niterói Livros; que Angelo Longo criou e manteve por muitos anos a Editora Cromos, de tantos serviços prestados ao editorialismo niteroiense.
Na arte cênica, na fotografia, nas artes plásticas, na literatura, fui buscar alguns exemplos de nomes que talvez não estejam sendo reverenciados conforme fizeram por merecer. Efusivos aplausos, portanto, à iniciativa da Editora da UFF de publicar postumamente desenhos de Miguel Coelho.
Miguel Coelho nasceu no dia 29 de setembro de 1934 na pequena Matipó, Zona da Mata de Minas Gerais, e teve infância de menino de roça, vivida na fazenda do avô, o temido Cel. Abelha. Após uma passagem por Campos dos Goitacases, acabou cooptado por Niterói, que o adotou como um de seus filhos mais diletos e onde faleceu em 9 de março de 2007.
Sua vocação para o desenho e para a pintura veio com a leitura das revistas Tico-tico e Globo juvenil. Começou sua atividade artística esculpindo pequenas estatuetas de índios, que vendia para turistas.
Miguel frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, na cidade do Rio de Janeiro, na qual muitas vezes questionou o rigor acadêmico. Nesta época, aproximou-se de Candido Portinari.
Marxista, militou nas fileiras do Partido Comunista Brasileiro e participou ativamente de campanhas de cunho nacionalista.
Em 1969, surgiu em Niterói o “Movimento Poesia-Cartaz”. Poemas de Afonso Estebanez, Carlos Couto, Cesar Araújo, Fernando Gonçalves, Francisco Maciel, Gastão Neves, Oriovaldo Rangel, Pedro Paulo Gavazzoni, Silésio Nascimento e Miguel Coelho foram ilustrados pelo próprio Miguel, Guima, Israel Pedrosa, Levy Menezes, Nilton Rezende e Paulo Pimentel, sendo expostos em Niterói, na cidade do Rio de Janeiro e em Teresópolis. O “Poesia-Cartaz” deu origem ao “Grupo Salina”, que chegou a publicar uma antologia poética, mas teve vida curta e tormentosa. Na época, havia o “Grupo Colina – Comando de Libertação Nacional”, com outros objetivos, evidentemente. Naquele tempo, porém, uma simples coincidência sonora bastava. Em consequência, os integrantes do “Salina” acreditaram ser prudente desativá-lo.
A generosidade foi um traço marcante da personalidade de Miguel Coelho. Foram inúmeros os escritores seus conhecidos que tiveram livros por ele ilustrados. A nenhum deles o nosso homenageado exigiu pagamento por conta do seu trabalho. Costumava dizer que para amigo não botava preço.
Além disso, gostava de homenagear amigos diletos, inserindo suas figuras em alguns quadros. Por exemplo, em “Bois pintadinhos”, óleo sobre tela, lá estão Alaôr Scisínio e Luís Pimentel como integrantes de uma bandinha de interior. Um a tocar sanfona, outro a soprar um trombone de vara. Já em “Jazz”, também óleo sobre tela, Alaôr toca clarinete; Pimentel, banjo.
Miguel Coelho foi também exímio no bico de pena, por meio do qual reproduziu fortes, igrejas e fazendas, num trabalho de preservação de nossa memória patrimonial.
Nosso homenageado participou de inúmeras exposições, individuais e coletivas, e de salões de arte em vários municípios brasileiros e também na Alemanha, onde expôs individualmente em 11 cidades. Sua temática principal foi a brasilidade, por meio de relações dialéticas entre o rural e o urbano, o tradicional e o contemporâneo, o sagrado e o profano. Mas Miguel não se restringiu a esse tema. Em “Suíte Cinza”, por exemplo, despontam pinturas geométricas em total liberdade criativa. Valendo-se da pedra-sabão, também esculpiu. Quase sempre eram figuras de traços exagerados, volumosas.
Talvez alguns não saibam, mas Miguel Coelho transitou pela literatura, pela música, pela atividade jornalística, nesta última como colunista de jornais e revistas. Teve uma de suas poesias premiadas no “Concurso Nacional de Poesia Falada”, realizado por Gastão Neves na década de 1960. Foi vencedor do “Concurso de Contos LIG/Pasárgada”, em 1977, e do “Concurso Literário Stanislaw Ponte Preta”, promovido pela Rio-Arte em 1995. No papel de compositor, ganhou medalha de ouro no “II Festival Fluminense da Canção Popular”, em 1968. No ano de 1970, dupla premiação: vencedor do “IV Festival Fluminense da Canção Popular” e finalista do “V Festival Internacional da Canção”, promovido pela Rede Globo de Televisão. Em 1972, foi autor do melhor samba-enredo do carnaval de Niterói. Portanto este artista plural merece mesmo nossa consagração.
Quando Miguel Coelho transferiu seu ateliê para o bojo de uma nuvem, percebi matizes de suas tintas no pôr do sol, disse acreditar que sairia de seus pincéis o próximo arco-íris, afirmei que haveríamos de sentir sua presença nas auroras e nos crepúsculos, no azul do céu e no cintilar das estrelas. E assim tem sido. Pelo menos para mim, que acredito na perenidade das artes e tenho por hábito adubar saudades para fazê-las florir.
Registramos aqui um agradecimento cordial a Manoel Casimiro Lopes (Manekolopp)
por ter cedido imagens e vídeo para esta postagem.
Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)
Obrigada, Wanderlino!
ResponderExcluirEStou imersa em saudade.
Um abraço
Belvedere
Miguel Coelho! Este é o cara! Grande lembrança!
ResponderExcluirVocês estão dourando a pílula, Miguel Coelho é tão ilustre quanto desconhecido!
ResponderExcluirProva disso é o desinteresse por essa postagem.
Só um anônimo mesmo para postar um texto tão descabido. Miguel Coelho, além de excelente pintor, foi um ser humano extraordinário. Sua postagem nem deveria estar aqui. VC é um infeliz, cara!!!!!!!!!!!Vai procurar saber sobre a vida e obra dele.
ResponderExcluirCarmen Costa Sousa
Miguel é um ser que já é parte de nossa história. E você, anônimo cara pálida?
ResponderExcluirSylvianne Mattos
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirO comentário de Marcio Rosário em resposta a postagem anônima foi retirado por conter chulismos. Os debates em Literatura-Vivência prezam pelo nível e decoro, não sendo publicadas mensagens com insultos e termos de baixo calão.
ResponderExcluirRoberto.
ResponderExcluirMeus cumprimentos à EDUFF pela edição de trabalhos de Miguel Coelho, e a Wanderlino Teixeira Leite Netto pelas belas palavras sobre o grande artista; merecida homenagem. No Festival Fluminense da Canção, de 1968, tive a alegria de ter sido seu concorrente quando ele, em parceria com Luiz Paulo Porto, teve duas canções na final: Reza praiana e Salina. O maestro Eduardo Lages, conhecido acompahante de Roberto Carlos, despontou nesse festival.
Abraço, Gilson
Prof. Roberto Kahlmeyer-Mertens,
ResponderExcluirmuito boa sua iniciativa em reprimir quaisquer comentários depreciativos no blog.
A vida elogiável do prof. Miguel Coelho é inquestionável; foi honrada e quanto às suas obras de várias facetas artísticas, são reconhecidas e florescerão através dos tempos.
Sou testemunha.
Amém!
Parabéns a Wanderlino, pelas palavras repletas de carinho, respeito e admiração pelo professor Miguel Coelho.
Miguel Coelho é um artista conhecido e reconhecido. Mas conhecido e reconhecido tem muita gente. Estamos abarrotados de "celebridades", algumas conhecidíssimas. Entretanto são "celebridades" como as cansativas cenas de Andy Warhol ou o "conceitual", oportunista e ridículo penico do Duchamp, ou alguma enormidade calipígia alvoroçada. Celebridades sem resistência, "celebridades" dessa "cultura" brasileira atual, "celebridades" grotescas e ridículas: não aguentam uma investida de cultura de verdade. Cultura de verdade encontramos nas obras de Miguel Coelho: cultura, arte, talento. Basta olhar, e se admirar, e curtir. A gente pode escolher e só saber do que é "conhecido", mas faz bem à alma procurar conhecer o que é talento verdadeiro. Feliz daquele que procura, descobre e conhece. Mas para isso é preciso ter bom gosto, interesse pela arte, sensibilidade. É esse o meio de artistas como Miguel Coelho, é nesse meio verdadeiramente de cultura que ele é muito conhecido.
ResponderExcluirMiguel...Miguel... saudades de sua arte!
ResponderExcluirRoberto,Grato pela publicação do texto por meio do qual, in memoriam, saudei Miguel Coelho em duas oportunidades. Fazê-lo foi muito honroso para mim. Miguel foi um excelente artista e um admirável ser humano.
ResponderExcluirGrande abraço, Wanderlino
Fiquei muito feliz de saber que este talentoso artista dá nome a Rua em que moro. Rua Miguel Coelho. Bairro Maravista. Região Oceânica de Niterói. Antiga Rua Dezessete
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