quinta-feira, 3 de maio de 2012

"O poema e a rosa", por José Eustáquio Cardoso


Alguém ainda acredita na velha e boa poesia, na antiga cantiga de melodia grafada em métrica, ritmo e rimas? Nos versos que se recitavam em rodas, saraus e salões e figuravam entre as pouco mais que elementares lições dos livros da matéria então chamada Linguagem, remontando à nostalgia dos primeiros bancos escolares?
Alguém ainda acha que o sentimento da poesia, assim como o sentimento do homem, tão antigo como ele próprio e como sua própria cantiga, deve passar pela compreensão de sua linguagem, imagens e símbolos, para não se constituir em indecifráveis enigmas, apenas alcançáveis por iniciados? Que a poesia, mais que lida e interpretada, deve ser tocada, apalpada e ouvida para correr por veias e chegar aos corações?

 

Capa do livro Canção Antiga 

O autor desta Cantiga Antiga, sim, ainda acredita, acreditando até que essa forma de poesia pode ser resgatada ou, quando menos, ainda apreciada, no
mínimo por aqueles que se comovem com canções, as quais até hoje ainda se valem das rimas como companheira inseparável da melodia. A melodia canta em versos, e os versos cantam melodia, eis a profissão de fé do poeta, apaixonado por música, irmã siamesa da poesia, ao ponto de estar seguro de que a união de ambas constitua o mais feliz conúbio de que se tem notícia. Será que alguém duvida?
E por isso ainda faz e lê versos como quem canta ou "como quem aprende uma dorde outros versos aprendida" ou "como quem acende uma outra dor" que ele aprendeu "da vida". E o resultado é esta partitura de poemas urdidos "como não tão antigamente" se escreviam. Poemas com uma pauta em cada estrofe, um compasso em cada ritmo, uma nota em cada sílaba, um acorde em cada rima, uma
frase melódica em cada verso, a canção como síntese. Poemas mais que com rimas e ritmos, versos e melodias, com alma e coração.
O autor desta Cantiga Antiga, sim, ainda acredita, acreditando até que essa forma de poesia pode ser resgatada ou, quando menos, ainda apreciada, no mínimo por aqueles que se comovem com canções, as quais até hoje ainda se valem das rimas como companheira inseparável da melodia. A melodia canta em versos, e os versos cantam melodia, eis a profissão de fé do poeta, apaixonado por música, irmã siamesa da poesia, ao ponto de estar seguro de que a união de ambas constitua o mais feliz conúbio de que se tem notícia. Será que alguém duvida?
E por isso ainda faz e lê versos como quem canta ou "como quem aprende uma dor de outros versos aprendida" ou "como quem acende uma outra dor" que ele aprendeu "da vida". E o resultado é esta partitura de poemas urdidos "como não tão antigamente" se escreviam. Poemas com uma pauta em cada estrofe, um compasso em cada ritmo, uma nota em cada sílaba, um acorde em cada rima, uma
frase melódica em cada verso, a canção como síntese. Poemas mais que com rimas e ritmos, versos e melodias, com alma e coração.
Deixem-se, pois, de lado sofisticadas operações de inteligência para se aferir a intenção do poeta: com alma e coração tendo sido escrita, com coração e alma é que se deve ler e ouvir esta Cantiga Antiga.Deixem-se, pois, de lado sofisticadas operações de inteligência para se aferir
a intenção do poeta: com alma e coração tendo sido escrita, com coração e alma é que se deve ler e ouvir esta Cantiga Antiga.



O poema e a rosa


                                                                                              José Eustáquio Cardoso


Eu leio versos como quem aprende
uma dor de outros versos aprendida
e faço versos como quem acende
uma outra dor que eu aprendi da vida.

E de uns e de outros versos me recende
um traço ou resto de fragrância havida
em uma e outra dor e se compreende
em pét’la de entre espinhos recolhida.

Dor de versos é dor que não me dói
mais que a dor de não ter versos que ler
mais a dor de não ter dor que aprender.

Suave me nasce, vive e se constrói
da substância sublime e preciosa
de sangue rubro a colorir a rosa.

Itajubá, 28/12/2008



9 comentários:

  1. Eu acredito, Roberto! Obrigada!
    Belvedere

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  2. Eu também acredito, Roberto, sendo bom, sendo belo, eu acredito. Transmitindo coisas boas, emoções agradáveis, eu acredito. O que eu não acredito é no modismo e no patrulhamento. O pequeno doce que o poeta Eustáquio nos ofertou, é muito gostoso. Acredito também que finais felizes possam ser muito bons, embora muita gente boa diga por aí que literatura não pode ter finais felizes.
    Carlos Rosa Moreira.

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  3. Boa poesia não conhece rótulo! Amém para o soneto se ele for bom!

    Pelo que vi até aqui, posso entrever José Eustáquio como um grande poeta de gênio.

    E o que dizer de Callas e Bellini!?

    Parabéns pelo impoluto bom gosto do Blog!

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    Respostas
    1. Supremo bom gosto do Blog, André!

      Zenão Tavares

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  4. Lindíssimo! Eu também acredito na relação poesia-melodia.
    Encantado... um abraço.
    Mauro Nunes

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  5. José Eustáquio Cardoso9 de maio de 2012 às 12:37

    Meu emocionado agradecimento a todos que se manifestaram demonstrando compreensão de minha proposta poética e sensível sintonia com meus versos. Obrigado ao Roberto pela visibilidade que dá a minha obra em seu tão concorrido e importante blog.

    José Eustáquio

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