quinta-feira, 24 de novembro de 2011

De volta do baile, Bilac...





De volta do baile



Chega do baile. Descansa.
Move a ebúrnea ventarola.
Que aroma de sua trança
Voluptuoso se evola!

Ao vê-la, a alcova deserta
E muda até então, em roda
Sentindo-a, treme, desperta,
E é festa e delírio toda.

Despe-se. O manto primeiro
Retira, as luvas agora,
Agora as jóias, chuveiro
De pedras da cor da aurora.

E pelas pérolas, pelos
Rubins de fogo e diamantes,
Faiscando nos seus cabelos
Como estrelas coruscantes.

Pelos colares em dobras
Enrolados, pelos finos
Braceletes, como cobras
Mordendo os braços divinos,

Pela grinalda de flores,
Pelas sedas que se agitam
Murmurando e as várias cores
Vivas do arco-íris imitam,

- Por tudo, as mãos inquietas
Se movem rapidamente,
Como um par de borboletas
Sobre um jardim florescente.

Voando em torno, infinitas,
Precipitadas, vão, soltas,
Revoltas nuvens de fitas,
Nuvens de rendas revoltas.

E, de entre as rendas e o arminho,
Saltam seus seios rosados,
Como de dentro de um ninho
Dois pássaros assustados.

E da lâmpada suspensa
Treme o clarão; e há por tudo
Uma agitação imensa,
Um êxtase imenso e mudo.

E, como que por encanto,
Num longo rumor de beijos,
Há vozes em cada canto
E em cada canto desejos...

Mais um gesto... E, vagarosa,
Dos ombros solta, a camisa
Pelo seu corpo, amorosa
E sensualmente, desliza.

E o tronco altivo e direito,
O braço, a curva macia
Da espádua, o talhe do peito
Que de tão branco irradia;

O ventre que, como a neve,
Firme e alvíssimo se arqueia
E apenas embaixo um leve
Buço dourado sombreia;

A coxa firme, que desce
Curvamente, a perna, o artelho;
Todo o seu corpo aparece
Subitamente no espelho...

Mas logo um deslumbramento
Se espalha na alcova inteira:
Com um rápido movimento
Destouca-se a cabeleira.

Que riquíssimo tesouro
Naqueles fios dardeja!
É como uma nuvem de ouro
Que a envolve, e, em zelos, a beija.

Toda, contorno a contorno,
Da fronte aos pés, cerca-a; e em ondas
Fulvas derrama-se em torno
De suas formas redondas:

E, depois de apaixonada
Beijá-la linha por linha,
Cai-lhe às costas, desdobrada
Como um manto de rainha...





Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)



11 comentários:

  1. Roberto, gostei dos versos do Bilac.
    Como sou da antiga, não sei se o comentário "puta bom gosto!" (postado por um de seus seguidores) é um elogio ou uma crítica irônica.
    Abç.
    Gilson

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  2. Fernando Antonio Nunes dos Santos24 de novembro de 2011 às 22:00

    “Veía más allá de la vida y de la muerte, mas allá del bien y del mal; Veía más allá de su propia alma.
    Ante él, como abierto pergamino,
    Estaba la maravilla de la Infinita Voluntad.”
    Tennyson


    “Endoselado por azul firmamento,
    sin nube, tan claro y bello en su pureza,
    que solamente podía percibirse a Dios en el cielo”
    Byron

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  3. Seios rosados... Buço dourado... Que beleza esse Bilac, que delicada sensualidade... E o seu bom gosto, Roberto, por colocar Vangelis com essa maravilha que foi a trilha de Blade Runner. Filme, música, Bilac, poema, Roberto, blog, tudo nota dez!

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  4. Esta última matéria tem toda uma atmosfera!...
    Roberto Kahlmeyer, vc sabe criar atmosferas...

    Monique

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  5. Parabéns, Kahlmeyer, seu blog é uma joia de raro fulgor. Eu não conhecia esse belo e sensual poema de Bilac. Obrigada!
    Um abraço,
    Gracinha Rego

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  6. Refinamento que só!

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  7. Roberto Kahlmeyer,

    Venho acompanhando seu blog e acho ele muito bem feito. Matérias com bom nível, textos bem escritos, imagens expressivas, músicas e vídeos interessantes e um lay-out bem atraente.
    Gostaria de saber se existe algum curso para se elaborar um blog. Caso exista, por favor me indique.

    Att
    Alan Aranda

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  8. LINDO!!! Obrigada por me recordar de tanta beleza...M.A.

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  9. Quanto romantismo confundindo uma realidade tão linda!

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