domingo, 23 de outubro de 2011

Um pouco de humor para a semana começar bem...

Contradizendo os juízos de que o Blog Literatura-Vivência é sisudo demais e que não tem paciência para o chiste, não sendo audiência para o bom humor, eis aí um dos textos de sátira às afetações da dita cultura "descolada". O texto é antigo (e desde a década de 2000 circula pela internet) mas a piada é atualíssima.

Postagem dedicada ao Sandro Rebel


O Abapuru, de Tarsila do Amaral


A primeira festa de aniversário de Mano Wladimir



Por Vladimir Cunha


(Em tempo: Mano Waldimir é o nome do filho da Marisa Monte.)

Mano Wladimir está tenso. No colo da mãe, Marisa Monte, ele ainda não conseguiu entender exatamente o que está se passando. Ao seu lado, Carlinhos Brown conversa com Wally Salomão, que cita uma poesia de Caetano Veloso, que dá um brigadeiro orgânico (sem chocolate e sem leite condensado, cortesia do buffet Doces Bárbaros) para Zeca, que leva um pito da mãe, Paula Lavigne. Mano Wladimir está tenso. É a sua primeira festa de aniversário.

 “Criança sã
De uma rã
Guardiã
Eu sou seu fã
Na manhã
Aramaçã
Cunhã”.

A música infantil escrita por Arnaldo Antunes especialmente para a festa é a trilha sonora da dança das cadeiras. Nada da Turma da Mônica, nada de atores desempregados vestidos de Pikachu. Aqui a coisa é diferente. MM resolveu ser mãe em grande estilo e contratou a Companhia Bufa de Artes e Performances do Absurdo para animar a festa.
Fantasiado de Ed Motta, um ator recita de trás para a frente toda a obra de Eça de Queiroz para algumas crianças. Do outro lado da sala, um grupo de clowns (sim, porque numa festa como essa é proibido ter palhaço) ensaia uma volta à posição fetal enquanto ostenta reproduções dos parangolés de Hélio Oiticica.
Num canto, Carlinhos Brown dá uma entrevista para uma repórter da revista Bravo, escalada especialmente para cobrir o evento.

" - E aí, Brown? Está feliz com o primeiro aninho do Mano Wladimir?"

"- É uma coisa da modernidade nagô, no que tange a referência espaço/tempo do ciclo da história humana. O cósmico supremo da realização superlativa, a poética da bioenergia enquanto motor da sublimação ótica. É onde o eu e o tu fundem-se na epiderme inconsciente."

"- E o que você deu de presente para ele?"

"- Pensei na questão do pacifismo, na guerra como catalisador das emoções humanas ao mesmo tempo em que atrai e repudia o ser. A máquina ceifadora que gera vibrações orgônicas, que tangencia e descontinua a unidade solar dos povos."

"- Como assim?"

"- Eu dei um boneco dos Comandos em Ação…"

Enquanto as crianças não podem comer o bolo de cenoura, aniz e mel de cana que traz estampado uma reprodução de O Abaporu, de Tarsila do Amaral, em sua cobertura – Marisa Monte serve a elas copos de suco de gengibre e balas de cravo da Índia. Até que Paula Lavigne tem a ideia de chamá-las para um  karaokê. Quem começa a brincadeira é Benedito Tutankamon Pedro Baby, cinco anos e filho de um dos roadies de Arnaldo Antunes, que canta O Avarandado do Amanhecer, de Caetano Veloso. Em seguida é a vez de Zabelê Tucumã Nhenhé Çairã, três anos e filha da empresária de Carlinhos Brown, que canta Ana de Amsterdã, de Chico Buarque. Ao saber que a próxima criança a cantar é a impronunciável Zadhe Akham Mahalubé Sinosukarnopatrionitnafilewathua, filha da copeira de Marisa Monte, Paula Lavigne acha melhor suspender o karaokê.

É hora do Parabéns a Você. Os convidados reúnem-se em torno da mesa. E então, Marisa Monte anuncia uma surpresa: quem irá cantar o Parabéns é Carlinhos Brown. Brown, que andava meio sumido depois de sua entrevista para a Bravo, aparece vestido com um cocar feito de canudinhos de plástico, uma camisa de jornal e uma tanga de folhas de bananeira. Atrás dele, 315 percussionistas da Timbalada, um videomaker e quatro poetas marginais. Brown pega um garrafão de água mineral e começa a cantar sua versão para Parabéns a Você:

"- Vim para cantar
A tropicália alegria de um povo
Azul, badauê, zumbi
Ela não me quer
Mas sou um tacle regueiro
Viva o divino samba de João
Monarco na rua
Meu bloco chegou."

Arnaldo Antunes se empolga e começa a recitar poesias descontroladamente, Marisa Monte gorgeia e improvisa algumas melodias, a Timbalada toca um samba-reggae, Paula Lavigne cai na farra e Caetano acha tudo “lindo”. O videomaker filma e Wally Salomão escreve o release. Os poetas marginais aproveitam a confusão para roubar uns docinhos.

Um executivo de uma grande gravadora, que entrou de penetra, contrata todos os presentes e promete CD, DVD, livro, críticas favoráveis no New York Times, participação de David Byrne e especial de televisão. Para comemorar, Arnaldo Antunes põe um disco de Lupicínio Rodrigues. O ator vestido de Ed Motta cospe fogo. Marisa Monte lê Mário Quintana em voz alta.

Mano Wladimir chora. É a sua primeira festa de aniversário.




Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)



10 comentários:

  1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    Hilário!

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  2. Fala sério prof!

    Estudo com você há dois anos e nunca poderia imaginar que por trás daquela formalidade toda houvesse senso de humor.

    Bom saber de seu lado divertido!
    Já sei, ele não é para qualquer um, não é para reles mortais como nós alunos, não é?...

    Brincadeirinha! Boa semana para o senhor.
    Bjs
    Mirela

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  3. Renato Augusto Farias de Carvalho23 de outubro de 2011 às 21:41

    Caro blogista, prezado amigo: Convidou-me para a festa, Karl Lowith, mas não pude ir porque Da. Ivone Lara preparava um samba-tese à ontologia hermenéutica, que afinal foi gravado pelo grupo comunista, em uma faixa do CD de Zeca Pagodinho. Mas eu vou cantar, na minha próxima viagem aos pais de Augusto Comte, em Azafrão do Norte, ao sul do Líbano. Mesmo que não gostem, eu continuo viajando. Certamente,
    teremos operetas tragicômicas, com grandes astros espaciais. Não me responda porque estou de saída, não quero perder o próximo zeppelim!
    Até sempre,
    Renato

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  4. Bonito!

    Só faltaram os stripers etíopes anões usando Melissinhas douradas!

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  5. Roberto,

    Duas postagens por semana é muito pouco!
    Eu leria o blog diariamente.
    Poste mais frequentemente!

    Att
    Chicão

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  6. Roberto, muito gozado!
    o Blog é Ótimo.

    Marcio Almeida

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  7. Muito f*da!!! KKKKKKKKKKKKKK

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