segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Em Marraquesh, ciceroneado por Affonso Romano de Sant’Anna.

Se ainda válida a metáfora de Burckhardt, então que tenhamos as letras de ARS como nossas cicerores. Não por Florença, Nápoles ou Roma (como um dia  nos teria guiado o suíço), mas pela Maraquesh do anão...


Retrato de cortesão Sebastián de Morra de Diego Velasquez (1645);
ao seu lado a releitura de Salvador Dalí (1982).



O anão de Marraquesh


Em Marraquesh há um anão que ensandece as mulheres. Elas vão ao banho (dizem aos maridos) fazer limpeza de pele mas algo a mais ali sucede basta ver como depois além do corpo a alma lhes vai leve. O segredo deste anão está guardado na palma da mão e com seus dedos sabe sublimar as mulheres. Elas vêm, e ele com silencioso gesto pede que se dispam, se despem. Se ele dissesse, voem voariam, se dissesse dancem, dançariam se dissesse, amem-me o seu mínimo corpo amariam. Mas pede apenas que larguem suas vestes e se deitem à espera que suas pequenas mãos se agigantem e abram portas, janelas, desvãos, abismos na vertigem da viagem dentro da própria pele. Quando se despem despedem-se dos maridos e já não mais carecem de amantes é como se Penélope convertida em Ulisses nas mãos do anão a Odisséia sentissem. Ninguém sabe exatamente o que seus dedos operam. Começa pelos pés e algo vem subindo devagar ao leve toque que não toca, que roçam nas mas que não fere, que solicita e impera e vai em círculos como se o bem e o mal se transcendessem numa espiral de delícias. Os maridos e parceiros ficam no hall do hotel bebendo uísque, nas quadras jogando tênis e nunca saberão o que ocorreu ao leve toque daquelas pequenas potentes, suaves mãos. Finda a massagem (nome conveniente à transfigurante viagem) as mulheres reaparecem translúcidas caminhando a um centímetro do chão irrompem inalcançáveis como se tivessem tido uma visão. Aos maridos não adianta qualquer explicação. Há na pele da alma delas algo de que jamais se esquecem: o irrepetível toque dos dedos e das mãos do anão de Marrakesh.





Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)



11 comentários:

  1. Prezados leitores do Blog “Literatura-Vivência”,

    Durante alguns dias tivemos problemas na publicação de comentários às postagens.
    Para alguns que tentaram colocar mensagens, o texto simplesmente desaparecia sem ser publicado.
    Comunicamos que este inconveniente já foi resolvido e que o leitor-usuário já pode comentar as postagens sem qualquer complicação.

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  2. Caro Roberto


    Agradeço muito a divulgação do Encontro Literário Sesc no seu blog Literatura-Vivência, do qual me tornei seguidor para acompanhá-lo sempre.
    Amanhã, espero poder encontrá-lo por lá na oficina Poesia nossa de cada dia.


    Um abraço,
    Sérgio

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  3. Affonso Romano de Sant’Anna18 de outubro de 2011 às 14:22

    Roberto, valeu.
    Você já ouviu a Eliza Lucinda dizendo esse poema num CD?
    ars

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  4. Há um grande prazer em ler e em ouvir Affonso Romano de Sant'anna.Talvez fosse melhor não dizer nada, ele dispensa apresentações e elogios, mas é um poeta maior, um cronista fascinante, escritor de brilho em outros gêneros literários. E me dá vontade de dizer isto, pois é o que sinto quando o leio. Mas Affonso Romano é bom de ouvir também. Em suas palestras e entrevistas, não consigo deixar de ver em Affonso algo de baluarte. Talvez ele nem queira isso, mas suas palavras amorosas e realistas sobre arte e cultura são refrigério em meio a tanta banalidade valorizada, a tanto troço grotesco chamado de "arte", a tanta cultura apenas de entretenimento. É bom ouvi-lo, ele nos demonstra sempre, que a poesia é viva.

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  5. Tem que trazer esse rapaz para fazer um workshop com a rapaziada! (estou falando do anão, não do Affonso).

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  6. Affonso é um intelectual que enche de orgulho o país.
    Parabéns!
    Belvedere

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  7. Renato Augusto Farias de Carvalho18 de outubro de 2011 às 23:08

    Estimado Roberto:

    Ainda estou fora de Niterói, atualmente em Manaus. Por isso não tenho postado comentários, entretanto sempre que posso tenho acompanhado. Muito me alegrou os comentários que ilustraram o maravilhoso abstracionismo daquela mulher que se chamou FAYGA. Sempre fui um "aluno" virtual, um aprendiz de vida/arte: tenho, dela, òtimos depoimentos, reproduções e referências a muitas exposições.
    Alias, a maioria fora do Brasil. Já tive a alegria de mencionar essas coisas numa palestra na nossa ANL. Talvez você lembre. Meu caro, seu blog continua sendo um estímulo, um cantinho onde as pessoas podem, sempre, conhecer alguma coisa nova e sempre apresentada com singular categoria. Aproveito para agradecer-mais uma vez-sua brilhante crítica (generosa) a respeito do meu humilde "Uma tela na parede". Neste outubro, outro amigo generoso, Wanderlino, publicou seu texto, na íntegra, na Revista Virtual da ANL: http://www.academianiteroiense.org.br .
    O que você diz me encoraja, porquanto ainda me sinto em plena "fase de amadurecimento". Abraço-lhe, certo de que, ao fazê-lo, estou muito próximo ao coração de um jovem especialmente dotado e dedicado.

    Sempre grato
    Renato

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  8. Kahlmeyer,

    Libera aí o telefone deste anão com toque de pele de ovo!

    Silvinha

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  9. Verticalmente prejudicado e lascivo, hehehehe
    anão...

    Gostei do texto...

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  10. Ae, esse muleke eh perigoso!
    Piloto de Fórmula 1!

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