quinta-feira, 15 de março de 2012

"Doze dias com Leviana" marca a estréia teatral de Luís Antônio Pimentel aos 100 anos






Baseada em um dos primeiros livros escritos por Luís Antônio Pimentel, a peça “12 dias com Leviana” apresenta o primeiro texto do autor levado para o palco. As três apresentações programadas para o Teatro Municipal de Niterói – dias 23, 24 e 25 de março – abrirão as comemorações do centenário de Pimentel, considerado um dos maiores ícones da cultura fluminense. A história, escrita em 1935, narra um romance intenso vivido por um jovem poeta – possivelmente o próprio autor – com uma cantora de rádio e resgata todo o glamour dos bastidores do broadcasting nos anos 30.
“Novela relâmpago em 13 lances”, como a definiu o autor, 12 dias com Leviana saiu publicada em 1944 pela Irmãos Pongetti Editores. Foi escrita, porém, quase dez anos antes na época em que Luís Antônio Pimentel, então um jovem jornalista de pouco mais de vinte anos, trabalhava ativamente na imprensa carioca e fluminense. Ele ganhou projeção ao publicar, entre 1935 e 1937, uma coluna diária na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, chamada “Diz que diz”. Dedicava-se ali a comentar os bastidores e a programação do broadcasting na época das PR’s, quando o rádio se impunha como um dos maiores fenômenos da comunicação de todos os tempos.
A peça se desenvolve através do relacionamento apaixonado e conflituoso de um rapaz com uma cantora de rádio, cuja identidade se esconde por trás do codinome Leviana.
Ficção? Façamos de conta que sim.
O protagonista anônimo é um poeta, um hábil desenhista, um amante da fotografia – traços presentes na multifacetada personalidade artística do próprio Pimentel, que, além de vate soberbo, costumava ilustrar seus livros com desenhos de próprio punho (inclusive a capa dessa novela) e é, hoje, o único fundador vivo da Sociedade Fluminense de Fotografia.
Como jornalista, especializado na cobertura do broadcasting, ele frequentou os corredores das emissoras e travou contato com as mais expressivas figuras do rádio. Teve músicas suas – também é compositor bissexto – gravadas por cantoras de renome, inclusive Carmem Miranda. O rádio, pode-se dizer, está no seu sangue tanto quanto o jornalismo e a poesia. Ele não só assistiu como de fato participou, com apenas 10 anos de idade, do nascimento desse meio de comunicação no Brasil. Estava na platéia com seu irmão, presenciando a primeira experiência de transmissão radiofônica, durante a Exposição Internacional de 1922, no Rio de Janeiro, quando foi escolhido pelo pai do rádio brasileiro, Roquette Pinto, que lhe pôs os fones aos ouvidos, para testemunhar o milagre.
Anos mais tarde, já como jornalista, ele se viu novamente frente a frente com Roquette Pinto, entrevistando-o sobre os rumos tomados pelo rádio no Brasil. Data dessa época – meados dos anos 30 – o texto de 12 dias com Leviana. Não por acaso, o ambiente do rádio ofereceria o pano de fundo para esse que é um dos primeiros livros escritos por Luís Antônio Pimentel, muito embora só publicado na década seguinte, quando o autor regressaria de sua marcante passagem pelo Japão, de onde retornaria com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, trazendo na bagagem o cânone do haicai e uma profunda admiração por aquele país (em 2009, por ocasião das comemorações do centenário da imigração japonesa para o Brasil, Pimentel foi um dos três brasileiros – e o único sem origens orientais – homenageados pelo governo japonês).
Quanto a Leviana, a persongagem-título da obra, esse é um tema tratado com extrema sutileza, ironia e paixão nos 13 “lances” da novela reproduzidos na peça – um “lance” para cada um dos 12 dias do romance, mais o patético epílogo. A personalidade fútil e volúvel de Leviana, demonstrada a partir do próprio codinome que lhe foi atribuído pelo autor, contrasta o tempo todo com a sensibilidade artística do personagem-narrador – e com o engajamento político do próprio autor, que, ao partir para o Japão, em 1937, o faz para escapar da perseguição do Estado Novo. Daí o hiato de cerca de 10 anos entre a criação da novela e a publicação do livro.
Ao ser encenada no Teatro Municipal de Niterói, cerca de 77 anos depois de escrita, a novela 12 dias com Leviana resgata o frescor dos primeiros textos de Luís Antônio Pimentel no ano em que o autor completa, em plena atividade, 100 anos de vida. Marca, também, no seu centenário, a estréia de Pimentel no teatro, acrescentando, assim, mais essa faceta à multiforme manifestação de seu talento artístico.


Ficha técnica:

Direção: Guga Gallo

Produção e adaptação: Luiz Augusto Erthal

Produtora executiva: Graça Porto

Elenco: Amanda Gallo e Anderson Caldeiras



Temporada:

De 23 a 25 de março de 2012.

Teatro Municipal de Niterói (Rua XV de Novembro, 35 • Centro • Niterói • Rio de Janeiro • CEP: 24020-125 • Tel: (21) 2620-1624)





Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)




6 comentários:

  1. Kahlmeyer, fico me perguntando se as pessoas já se deram conta desse seu imenso e hercúleo trabalho, de resgate e divulgação da história literária brasileira.
    De uma sua amiga e fã, que reconhece, conjuga, aplaude e incentiva.
    Márcia Pereira, editora.

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  2. Este Kahlmeyer é um dínamo!

    Está sozinho quando o assunto é trabalho de produção cultural.

    O blog é o máximo!

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  3. Kahlmeyer,

    Seu empenho por divulgar o que há de melhor na cultura de Niterói é comovedor!

    Tomara que saiba valorizá-lo

    Paty

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  4. Eu gostei da associação com a Betty Boop!
    Leviana...

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  5. Luis Pimentel jamais será esquecido. Graças ao literatura vivência podemos nos aproximar de pessoas tão ilustres da arte literária. Parabéns professor Roberto.
    Um abraço.
    Mauro Nunes

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