Poesias inéditas de Lena Jesus Ponte, exclusivas para o Literatura-Vivência:
Crepúsculo urbano
Um helicóptero deseja ser pássaro,
canta metálico.
Pálido, o Cristo sobre a montanha
afasta as asas cortantes.
Estridente, o fim do dia buzina.
Uma estrela se infiltra na paisagem,
pede passagem para a poesia.
* * *
Queda livre
Não tenho o álcool,
o ópio,
o lexotan,
o sono nem a morte
para me dar suporte.
Tenho a cirurgia sem anestesia,
o corte e a dor,
hemorragia que não estanca,
a cor vermelha sobre fundo branco.
* * *
Era uma vez, quase noite...
(para papai, in memoriam)
Ontem meu pai chegou
em inesperada visita.
Eu tomava café.
Ofereci a ele uma xícara.
Fumou um cigarro na janela.
Falou de umas tantas andorinhas
que trançavam o fim do dia...
Contei-lhe dos bisnetos que não conheceu.
A cada graça das crianças, ele sorria...
Na hora de ir embora,
sua mão de vazios pega a minha,
e a voz de neblina convida: − Vem comigo?
Eu quase que ia...
* * *
De passagem
Na rua dorme um menino
sem lençol de afeto.
Na rua sonha um menino
sonhos sem imagens.
Na rua seca um menino
sem sequer as miragens de um deserto.
O menino dorme,
abraçado à calçada,
aconchegado ao cimento.
Que faz todo mundo neste momento exato?
Dormimos todos um sono profundo.
***
Divulgação Cultural
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