O que dizer de Iberê Camargo na postagem de hoje? Talvez apenas relatar a funda primeira impressão que sua arte me causou em 1996. Grito que reverbera até hoje... Querer mais seria afoitez vadia.
“Arte, para mim, foi sempre uma obsessão. Nunca toquei a vida com a ponta dos dedos. Tudo o que fiz, fiz sempre com paixão”. (Iberê Camargo, 1914–1994)
CAMARGO, Iberê. Tudo te é falso e inútil III (1992).
“ – Minha contestação é feita de renúncia, de não-participação, de não-conivência, de não-alinhamento com o que não considero ético e justo. Sou como aqueles que, desarmados, deitam-se no meio da rua para impedir a passagem dos carros da morte. Esta forma de resistência, se praticada por todos, se constituiria em uma força irresistível [...]
– O drama [...] trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais íntima que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia-a-dia com o colorido das orgias e da alienação do povo. Não faço mortalha colorida.
– Por que sou assim?
– Porque todo homem tem um dever social, um compromisso com o próximo.
– Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é a minha vida, é tua vida, é nossa vida, nesse caminhar no mundo.
– Sou impiedoso e crítico com minha obra. Não há espaço para alegria. É difícil revelar o significado das coisas. O Homem olha a sua face, interroga-se e não sabe quem é.
– Acho que toda grande obra tem raízes no sofrimento. A minha nasce da dor.
– A vida dói [...]”.
CAMARGO, Iberê. As Idiotas (1991).
CAMARGO, Iberê. Tudo te é falso e inútil (1992).
"As figuras que povoam minhas telas envolvem-se na tristeza dos crepúsculos dos dias de minha infância, guri criado na solidão da campanha do Rio Grande do Sul."
CAMARGO, Iberê. Fantasmagoria (1987).
"A verdade da obra de arte é a expressão que ela nos transmite. Nada mais do que isso!"
CAMARGO, Iberê. Solidão (1994).
"Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é a minha vida, é tua vida, é nossa vida, nesse caminhar no mundo."
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Fala, Alemão!
ResponderExcluirSeu trabalho com este Blog é excelente!
Feliz é quem dele se beneficia, amigo.
Eu e a patroa admiramos muito vc!
Felipe
Kahlmeyer,
ResponderExcluirVocê sabia que foi o Sávio Soares de Sousa que foi o promotor do processo pelo qual o Iberê Passou?
O tal artista deve ter "cortado um dobrado".
Saudações,
Kleber
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ResponderExcluirPô Gente, alto lá.
ResponderExcluirO fato do artista ter dado um mau passo não deprime sua arte! Saibamos fazer a distinção entre a pessoa e a obra: Mozart era um vulgar, Van Gogh um louco, Dostoiévsky um viciado em jogatina, Picasso um canalha, Pollock um bêbado... mas a obra dessa gente é genial!
Iberê Camargo pode ter sido o pior de todos os biltres, mas sua arte deve ser julgada pelos critérios estéticos e não por critérios morais!
O que vcs pensam disso?
Lucio,
ExcluirNão conseguiria apreciar a arte de alguém que matou outra pessoa!(Isso é mais do que apenas um "mau passo". Mau passo é eufemismo!)
Existe um embargo que faz com que eu só sinta desprezo e nenhum gozo estético.
Sônia
Mas este embargo é moral, Sônia.
ResponderExcluirPouco importa quem é a pessoa, a obra é o que importa.
Um juízo como o que vc fez acima contraria a única coisa que vale na obra: sua impressão estética. Impressão estética que talvez vc valorizasse se não soubesse que o Iberê cometera o fatídico Crime (desta vez sem o que vc julgou eufemismo).
Lucio,
ExcluirSou uma pedagoga e abomino e ensino a abominar tudo aquilo que seja violência, injustiça, indignidade...
Não posso referendar a arte de um criminoso.
Sônia Lobo
(Gente, me ajuda!)
ExcluirSônia, a arte está para além da pessoa e dos atos do criminoso.
Continuaria gostando da arte do Iberê mesmo sem saber quem ele é, pois a arte dele me parece boa, independente de seus atos, gestos, convicções etc...
Não escolho artista para casar com minhas filhas, escolho a arte deles pois ela me promove uma impressão estética/poiética/artística e isso basta.
Sua atitude, desculpe dizer, é preconceituosa. Você ensina seus alunos a julgar a arte (ou o que quer que seja) a partir de preconceitos que já traz consigo.
São atitudes como essas que (extremadas) segregam, pouco inteligentemente, (até pq todo preconceito é burro) o trabalho de gente diferente.
Não estou falando apenas de "gente diferente". Falo de criminosos.
ExcluirVc só defende esta tese pq não foi seu filho o morto pelo Iberê!
Hehehehe... Tá bom então, Sônia.
ResponderExcluirKahlmeyer, o que você me diz disso?
Prezados Lucio e Sônia,
ResponderExcluirNa condição de mediador do "Literatura-Vivência" cabe a mim, apenas, garantir o debate de vocês creditando o respeito pelo posicionamento de ambos.
Adicionalmente, posso convidar os demais leitores para se juntar ao debate, sem que percamos o foco da arte de Iberê Camargo, que é o foco da postagem.
Bom... eu falei de alhos e o Lúcio de bugalhos. Não me lembro de ter denegrido arte de ninguém. Apensas pincei duas frases de seus pensamentos, para dizer que não é bem assim. Mas reconheço que é difícil dissociar o autor de sua obra, e sempre que vejo um Iberê pendurado na parede, me lembro do rapaz que ele deixou estirado covardemente no chão. Talvez a mesma sensação que sentiria se algum dia visse expostos os quadrinhos daquele jovem pintor alemão de começos do século passado chamado Adolfo... Adolfo... Adolfo de que mesmo? Há, sim. Adolfo Hitler. Que artista! Que obra! Dane-se o homem e seus malfeitos, o que vale é a arte.
ResponderExcluirHitler era um pintor medíocre, por isso não me interesso por sua arte. Se fosse boa, talvez (e digo, talvez) a apreciasse independente de ter sido o megalomaníaco genocida que foi.
ResponderExcluirSei saparar o joio do trigo.
Como fazer esta distinção em casos como o do ator Guilherme de Pádua? Todos lembramos do Crime que ele cometeu contra Daniele Perez. Este senhor pode ser o melhor ator do mundo, poderia ganhar mil Oscares e Molières que continuaria a ser, para a opinião pública, um assassino.
ExcluirGel Lama
Deixa pra lá. O que eu quero mesmo saber é se a partitura do Hino do Estado do Rio já voltou para o acervo da Biblioteca Estadual. Outro dia perguntei, e ninguém me respondeu.
ResponderExcluirRsrsrsrsrsrsr
ExcluirKahlmeyer,
ResponderExcluirVocê poderia encabeçar com seu blog a seguinte campanha: "Devolvam as partituras originais do Hino do EStado do Rio para a Biblioteca da AFL"!
Rocco
Até que não é má ideia. O seu a seu dono, né? Mas não é Biblioteca da AFL, é Biblioteca Pública Estadual, de onde as coisas costumam desaparecer por encanto. Primeiro, a partitura do Hino. Depois desapareceu o nome do Geraldo Bezerra de Menezes, dado à Biblioteca por decreto estadual. Daqui a pouco a própria Biblioteca some, e ninguem sabe onde foi parar.
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