Daniel Defoe, em páginas tantas de seu romance Moll Flanders, diz que se reconhece um grande amante quando, junto a ele, o êxtase remonta o momento da criação. Esta máxima estética bem poderia ser agenciada em favor dos poetas. Um poeta é genuíno quando sua poesia é capaz de soar como na origem, com o mesmo viço da primeira palavra entoada por um homem na atmosfera diáfana da gênese; quando nela reside o mistério que reúne em corifeu poetas seculares; quando em seu verbo, mesmo respeitando as fronteiras da finitude humana, expressam-se referências que trazem à tona este que poetiza. Vejamos como isto se dá junto ao poeta/amante Vinícius de Morais:
Poética
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
(MORAES, Vinícius. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998)
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Refinado!
ResponderExcluirRoberto, seu menino bandido! O texto da apresentação quase rouba a cena do poema. Admiro quem escreve bem assim.
ResponderExcluirContinue a dar alto nível a este maravilhoso Blog! Meu animador cultural preferido!
Alcirema
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ResponderExcluirCerto que o Vinícius era um poeta viril, mas este vermelho está de doer a vista!
ResponderExcluirDaniel Defoe foi um dos autores que coloriram minha infância e juventude. E embora tenha lido Moll Flanders (faz tempo!), o tempo me fez esquecer essa passagem que você menciona na apresentação. É uma bela frase, poderia se conversar por toda uma noite sobre ela. E melhor seria conversar com a mulher amada. A mulher que Vínícius soube louvar como poucos em música e poesia. Esta postagem está muito linda e me fez recordar de Robinson a Lelouch. Parabéns, Roberto.
ResponderExcluirCarlos Rosa Moreira.
Caro professor Roberto, continuo acompanhando as belas postagens que nos fazem pensar e repensar tantas facetas da nossa vida. Esta de Vinícius de Moraes é intrigante e reflexiva.
ResponderExcluirParabéns pela escolha para esta postagem.
Um abraço,
Mauro Nunes