O derramar de tristezas
Norma não nutria expectativas em relação à vida após inesperada separação. De nada adiantava lhe falar sobre possibilidades. O que desejava era a volta de Felipe. O casamento durara exatos 25 anos, comemorados com festa em prestigiado clube da cidade. Uma noite, ele, abruptamente, disse-lhe que não havia nada mais que justificasse a relação.
Norma era atriz e escritora e, por conta da separação, abandonara ambas as atividades. Aos que perguntavam sobre a falta de uma reação mais condizente com uma pessoa de seu nível, ela dizia que, se escrevesse, derramaria tristezas. Faltavam-lhe alvoroços. Sobravam melancolias.
Nuvens cinzas e espessas acentuavam sua sensação de desviver. Catava seus cacos, tentando não se despedaçar em meio à agonia. Setentasse encenar, tudo soaria dramático demais.
Teria congelado a alegria dentro das fotos dos seus inúmeros porta-retratos?
O som de um piano chegava até ela. Melodia de um tempo de quaresmeiras, doces colheitas, ânsias de paixão. Cores. Hoje, sua vida era um filme noir. Lágrimas, partidas e saudades.
Da janela, observa um navio que desliza sobre o oceano. ─ Decerto carrega milhares de ilusões. Quisera ser uma das passageiras! ─ reflete.
─ Haveria, ainda, esperança? ─ indaga a si mesma, ao mesmo tempo quebalança a cabeça negativamente. Com um copo de uísque na mão, constata que sua única certeza é quanto à fidelidade do álcool.
Consciente de que os dias passarão e que não haverá mudança no cenário emocional, esfrega as mãos nervosamente, vai à janela e cai num choro convulso, murmurando: ─ Quisera, ao menos, voltar a sonhar colorido!
Norma era atriz e escritora e, por conta da separação, abandonara ambas as atividades. Aos que perguntavam sobre a falta de uma reação mais condizente com uma pessoa de seu nível, ela dizia que, se escrevesse, derramaria tristezas. Faltavam-lhe alvoroços. Sobravam melancolias.
Nuvens cinzas e espessas acentuavam sua sensação de desviver. Catava seus cacos, tentando não se despedaçar em meio à agonia. Setentasse encenar, tudo soaria dramático demais.
Teria congelado a alegria dentro das fotos dos seus inúmeros porta-retratos?
O som de um piano chegava até ela. Melodia de um tempo de quaresmeiras, doces colheitas, ânsias de paixão. Cores. Hoje, sua vida era um filme noir. Lágrimas, partidas e saudades.
Da janela, observa um navio que desliza sobre o oceano. ─ Decerto carrega milhares de ilusões. Quisera ser uma das passageiras! ─ reflete.
─ Haveria, ainda, esperança? ─ indaga a si mesma, ao mesmo tempo quebalança a cabeça negativamente. Com um copo de uísque na mão, constata que sua única certeza é quanto à fidelidade do álcool.
Consciente de que os dias passarão e que não haverá mudança no cenário emocional, esfrega as mãos nervosamente, vai à janela e cai num choro convulso, murmurando: ─ Quisera, ao menos, voltar a sonhar colorido!
Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)
Literatura e Belvedere: dois nomes maiúsculos que, juntos, soam como música.
ResponderExcluirParabéns à grande literata!
Concordo, pois até gente que tem preguiça de ler, ou que não tem tempo pra isso, adora as crônicas da Bel.
ExcluirAna Suzuki
Amei a crônica da Belvedere. Mulher inteligente, que sabe prender a atenção da gente pois escrever com ternura.
ExcluirParabéns Bel
Obrigada por mais uma oportunidade,Roberto.
ResponderExcluirConfesso que eu tb gostaria de ter de volta meus sonhos coloridos. Como eles eram maravilhosos!
Um excelente final de semana para vocês. Abs
Belvedere
Belvedere, esta notável escritora, sempre surpreendendo com seu talento ímpar e criatividade imprevisível o regalo de seus leitores. Um brinde espumante à Letra Maior !
ResponderExcluirQue bacana, acabei de ler um poema do blog (http://diariosdesolidao.blogspot.com.br/) de Carlos Brunno, cujo título é "Alcoólatra" e agora leio seu blog que fala da "fidelidade do álcool. Bem, é necessário dizer que fiquei de pilequinho. rsrsrs.
ResponderExcluirCaro Kahlmeyer,
ResponderExcluirVocê leu na coluna do Paulo Roberto Cequetti, naquele jornalzinho Diz, a nota que ele deu sobre o Prêmio Intelectual do Ano. Parece que ele apoia um tal Marcus Vinícius Varella. Você conhece a pessoa? Nunca ouvi falar!
Abraços
Amanda Torres
Prezada Amanda,
ExcluirAinda não vi a nota do confrade Cecchetti no "Diz". A coluna dele neste jornal vem prestando um excelente serviço ao meio cultural de nossa cidade (inclusive no setor acadêmico de letras).
Quanto ao prêmio intelectual do ano, respeito a indicação do Cecchetti, mas não faço segredo de que o nome que apoio para receber o prêmio é o de Sávio Soares de Sousa.
Apareça, sua sumida.
Abraços,
Roberto
Gostei bastante do texto de Belvedere Bruno: intensidade, limpidez e economia...
ExcluirFrequento as reuniões da União Brasileira de Escritores - UBE-RJ e, aqui, nós também temos um prêmio de "Intelectual do Ano".
Todo ano a diretoria indica três nomes de destaque, por seu valor, produção literária e a comunidade vota elegendo.
Quais são os critérios para o prêmio de "Intelectual do Ano" em Niterói?
Gostei do Blog!
A resposta é uma só: não há critério!
ExcluirO prêmio aqui é dado por um livreiro da cidade e ele dá para quem quiser.
O critério é a vontade dele em fazer média com os pares e os pares são uns zeros a esquerda.
Pronto, falei.
E ainda completo: Faz tempo que ninguém de valor reconhecido pela comunidade é premiado.
ExcluirO Blog “Literatura-Vivência” faculta a livre expressão de seus usuários entendendo não ter autoridade de censurar qualquer manifestação de autêntica opinião.
ExcluirAs opiniões emitidas aqui, entretanto, são de inteira responsabilidade de seus propositores. A mediação do Blog não necessariamente endossa a posição de seus leitores.
Tenho certeza que Cecchetti não apoia o Marcus.Cecchetti é um brincalhão! hehehe!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirMarcelo Lopes
Belíssimo texto... Como sempre a grande literata nos faz viajar por caminhos incriveis do psicodrama,
ResponderExcluire por meio do seu talento o leitor tende mesmo a mergulhar profundamente no mundo Bevederiano,que é notório de beleza e maestria . Parabéns Belvedere, você sempre nos deliciando com seus suntuosos textos hein!...
abraços
ALBERTO ARAÚJO
Adorei!!! Seus textos são deliciosos minha amiga! Mil beijinhos, saudade, Suzette
ResponderExcluirACHO O TEXTO MUITO TRISTE.
ResponderExcluirMINHA MÃE DIZ QUE É COISA DE ADUTO.
MINHA MÃE TI ACHA MUITO INTELIGENTE, ROBERTO.
Bel é a exímia tradutora dos sentimentos do universo feminino.
ResponderExcluirPor tal, nossos aplausos!
Parabéns!
Eliana Crivellari
Bel, tem a sua cara....e vc, está sonhando colorido? hihihi...muito boa sua crônica, como sempre...
ResponderExcluirBel á exímia tradutora dos sentimentos do universo feminino.
ResponderExcluirPor tal, nossas salvas e loas.
O texto flui leve e cai na alma gostosamente.
Impecável o trabalho da nossa cronista.
Parabéns,
Eliana Crivellari - BH- MG
Este blog é COOL !!!
ResponderExcluirParabéns por toda essa beleza!!!
ResponderExcluirAmei conhecer o seu blog e passear por ele.
Doutor Roberto.
ResponderExcluirAbri seu Blog. Que lindo o escrito de Belvedere Bruno ! Também li, comentários. A mãe de Suelem Almeida disse: Como o Dr. Roberto
é inteligente ! Mas, quem não sabe? Eu, desde o Diabo...tinha sarampo. Minha sugestão, seja Sávio Soares de Sousa o preferido a
Intelectual do Ano. Que grande cultura tem o amigo Sávio ! A vida, sem amor e humor, não é bem vivida. A razão, de enviar-lhe o presente trbalho poético. No "Jornal Icaraí", página 12, a minha poesia dedicada ao grande mestre: Luís Pimentel.
A foto, tirada em "Escritores Ao Ar Livro", por Alderto Araujo. - Grande poeta, como de altura -
Belvedere, na densa leveza da sua prosa poética, você recriou um flash de vida dolorosamente verdadeiro.
ResponderExcluirParabéns pela mestria da cena. Traz a marca de verdadeira escritora.
Aguardo breve seu romance.
Dalma
Muito bom. Como td o que vc escreve. Parabéns!. Sou sua fã. Beijos
ResponderExcluirBel,
ResponderExcluirParadoxalmente, a tristeza de seus contos trazem alegria para nossas vidas. Bjs.
Sérgio Antunes de Freitas
Como sugeriste,cá vim bisbilhotar este espaço de cultura e bom gosto, que criaste e manténs, certamente com muito carinho.
ResponderExcluirAprecio o que escreves, Bel, e esta é a forma de partilhares as tuas excelentes crónicas e apontamentos.
O meu aplauso pelo belo trabalho postado.
Desde Portugal, com carinho,
Eugénio de Sá
Elogiar a Bel é chover no molhado, pois ela é uma escritora que já nasceu pronta, definitiva. Parabéns e sucesso.
ResponderExcluirParabéns pelo belo e real texto, querida Belvedere! Eu, enquanto lia, fiquei íntima e solidária à dor da personagem. Quem não sofreu por amor, jamais amou. Bjs e obrigada por compartilhar sua crônica!
ResponderExcluirBelvedere,
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Ele se encaixou perfeitamente neste dia chuvoso e melancólico.
Grande abraço,
Wanderlino
Parabéns, Bel
ResponderExcluirSou sua admiradora ha tempos e aprecio muito suas cronicas!
Sucesso sempre!
É o que lhe desejo sempre, de coração, para nosso encantamento!
Maria Ignez Friche (mignez)
O Blog "Literatura-Vivência" tem o prazer de comunicar que a presente postagem atingiu, na última hora, a marca de 430 acessos.
ResponderExcluirParabéns Belvedere Bruno por esta bela frequencia.
Roberto, como fazer para publicar em seu blog?
ResponderExcluirAgradeço sensibilzada a todos que tornaram meu fim de semana tão iluminado!
ResponderExcluirBeijos
Belvedere
Coisa boa, escrever e ser lido...
ResponderExcluirTocante... uma realidade em pares de espelhos
ResponderExcluirOlá professor Roberto...
ResponderExcluirO amor partido roubou-lhe a inspiração. Escrever seria derramar lágrimas. Resta a fidelidade do álcool.
Intrigante e para se refletir mesmo.
Parabéns pela postagem e pela escritora Belvedere.
Um abraço.
Mauro Nunes
Olá Bel !
ResponderExcluirComo sempre , arrebentando em suas crônicas em menina !
Esta crônica é uma reflexão que tudo na vida passa , até os sentimentos se modificam , nada permanece sempre.
Certa vez , eu li uma mensagem que um amigo me enviou , um texto muito conhecido : O trem da vida .
Neste texto , o autor narra que a nossa vida , não passa de uma viagem de trem : cheia de embarques e desembarques alguns acidentes , surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros .
Enfim , devemos estar preparados e aceitar as mudanças que podem acontecer em nossas vidas . Existem pessoas que acomodam-se em sentimentos e outras não .
Sucesso sempre Bel , um grande abraço da amiga Ed Durães .
Inspirado texto, amiga Bel! Meu abraço e meus parabéns pela reflexiva lavra.
ResponderExcluirVc escreve colorido, Bel. Felicidades por comunicar siempre tan bien los sentimientos femeninos, los sentimientos humanos.
ResponderExcluirAlba
A personagem de Belvedere está perfeita. Mulher apaixonada é fogo! Se valer para alguma coisa, que Norma
ResponderExcluirouça "Olhos nos Olhos " dos melhores tempos de Chico Buarque. Vai ficar curadinha. Com carinho.
Minha amiga Bel, vc escreve maravilhosamente entre o real e o imaginário, construindo personagens que saltam do cotidiano e se transformam em ideais na sua escrita. Gosto desse estilo belvederiano de ser.
ResponderExcluirBonito texto, Bel, dorido, real. Muito boa a imagem do navio. Há sentimentos vários na visão de um navio que parte: algo triste, que se vai, alguém que fica... Parabéns, um grande abraço.
ResponderExcluirCarlos Rosa Moreira.
Gostei por ser tão real. Bel "talvez" imagine, mas acredito revelar o cotidiano de muitas pessoas que passam pela sua memória. Sempre gosto do seu jeito de escrever! Sinto-me como se estive conversando com você. Amei!
ResponderExcluirBom reencontrá-la, Neyde Noronha
Por que culta, se tão bela? Por que bela se tão culta? Cabe, aqui,parafrasear o meu amigo Kahlmeyer referindo-se à minha personagen do conto "Uma questão de estrabismo". Isto porque no conto "O derramar de tristezas" -- como em outros de seus inspirados textos --BELVEDERE BRUNO mostra que não é, tão somente, bela como mulher mas também como escritora. Talentosa e ágil, sabe expressar sentimentos e reações da personagem de seu enredo. Isto, além da excelente cronista a que nos habituamos a ler. Antonio Soares (ASO).
ResponderExcluirAmigo Roberto
ResponderExcluirParabéns pelo excelente trabalho que vem realizando através de seu blog!
Bel,sempre me emociona com seus textos, que conseguem transmitir vivências... Quantas "Normas" já conhecemos na vida?
Continue trazendo grandes emoções e alegrias aos nossos leitores. Amamos esse seu envolvente estilo narrativo!
Beijos e abraços da amiga/irmã
Sílvia Tani (JORNAL SANTA ROSA)
BELVEDERE é sinônimo de cultura, excelente prosa e beleza. Parabéns à escritora e ao Blog, que incentiva e dá espaço. André Santa Rosa.
ResponderExcluirAdorei a sua cronica...Com certeza uma talentosa escritora.
ResponderExcluirbjs
mavi lamas
Bel querida, não sei se lembra, mas tempos idos[ e some tempo] , lhe disse: sua praia é na prosa e nos contos.
ResponderExcluirFico feliz que tenha seguido este caminho, ai está sua consagração querida!
Parabéns!!!!!
Bjs, nanamerij