Uns dias serenos
Viajar é uma ação renovadora, sempre. Pressupõe desamarrar (pré)conceitos e esquecer inevitáveis comparações. Mais que tudo, viajar é redescobrir, é surpreender-se. Encontro, dessa feita, uma Europa escaldante, sob um céu ocre avermelhado, que parece igualar todos os rostos, inflexivelmente escondidos em enormes lentes escuras. É, sem dúvida, o reino do Sol. Mas, os jardins de Portugal não revelam queixumes: a maioria tem as relvas espontaneamente verdes, uma espécie misteriosa de reserva dos dias mais frescos. Encanta-me, a pátria de Camões, de Fernando Pessoa, de Amália Rodrigues, de Maria Aliete Galhoez, de Agustina Bessa Luís e de Fernando Namora, que eu li, por obrigação, nos velhos tempos de exame vestibular. É bonito sentir-se a alma nova de um país que busca a própria modernidade sem perder respeito e amor às estruturas sociais, costumes e tradições. Procuro entender Portugal como deve ser: a um tempo simples e sofisticado, Portugal europeu. O Rio Douro parece invenção poética, margeando milhares de parreiras, matrizes do abençoado vinho do Porto. Permanecem serenos, em Lisboa, o antigo elétrico, o apaixonado fado, a imponência dos teatros na velha Baixa, os edifícios da universidade, próximos à Torre do Tombo, e admiro, sobretudo, os ideais literários e políticos de uma juventude atenta às expressões de liberdade e de desprezo às amarras das ditaduras. As azulejarias das pequeninas estações ferroviárias refletem a romântica preservação da alma portuguesa, enquanto os comboios passam rápidos, reconduzindo-nos, contrariamente, aos antigos e descansados acenos de um tempo de ontem, registrado apenas nas imaginações.
Revejo o Castelo de Guimarães, onde nasceu o 1º rei – D. Afonso Henriques – e vou percorrendo as ruas e ladeiras da histórica cidade do Porto, e Vila Nova de Gaia. Procuro, com cautela, o eterno Café Majestic e a maravilhosa Livraria Lello... No norte, não se pode esquecer as cidades de Aveiro, Viseu, Lamego, Penafiel, Régua, tampouco a Várzea de Ovelha, no Conselho de Marco de Canavezes, onde nasceu a pequena notável: Carmem Miranda. Guardo um carinho especial à minha tão íntima Vila de Lousada e às terras vulcânicas das Termas de Alcafache. Trago, por fim, na bagagem, alguns exemplares do excelente JL – Jornal de Letras Artes e Ideias – um quinzenário informativo português, que demonstra o interesse pelo movimento intelectual lusitano da atualidade. Não posso deixar de citar os museus portugueses, referência especial ao Museu da Cidade e ao Calouste Gulbenkian, construído “para receber a Coleção de Arte do grande financeiro armênio”, contando mais de 7000 objetos de arte: é visita obrigatória, de, pelo menos, um dia inteiro. Deixo Portugal com alma e coração enriquecidos em direção a Veneza, e vamos alcançando a Croácia, Tunísia, a irresistível Madeira e suas verdejantes montanhas, as Canárias, a doce Málaga... E retorno ao inquestionável murmurinho sempre azul-forte da nossa costa brasileira. O vento é morno, assobia abraços e lá se vêm o Recife de Manuel Bandeira e João Cabral, a Bahia de Mãe Menininha, e Jorge Amado... Até chegarmos às costas do irmão Pão de Açúcar – nosso Rio de Janeiro: alegria da volta, da casa, dos amigos, e um sussurro meio confuso de muitas notícias (que nem queríamos ouvir!) a respeito de desafetos, desacordos e páginas policiais... Entretanto, é aqui, aqui mesmo, onde mora a esperança verde e amarela que nós aprendemos a cantar e reter desde crianças.
Divulgação Cultural
(Clique na imagem para ampliar)
Seu blog tem algo de muito sedutor...
ResponderExcluirPow, prof.!
ResponderExcluirO post ñ eh sobre portugal, pq um clip sobre paris!?
Ae, a mina eh a maio princesa!
Marcelo
O Renato escreve bem, né?
ResponderExcluirMas nem por isso eu vou deixar de ir à Bienal.
Olga.
Caro Roberto:
ResponderExcluira sua competência e sua dedicação ao trabalho e ao estudo já são alicercadas e, uma moldura sua, conhecida por todos nós.
É preciso que eu me refira a outro ângulo seu: a generosidade. Muito obrigado!
No próximo sábado, dia 10.09, farei um esforço para abraçar pessoalmente você e Luiz Antonio Barros.
Um abraço
Renato Augusto
Será mesmo?
ResponderExcluirEle conhece mesmo esse amontoado de lugares, com seus detalhes, bem como tantas pessoas famosas que ele cita? São pontos muito diversificados.
Posso estar dizendo uma grande bobagem, mas tamanha "verborragia" não me agrada nem me convence. Eu precisaria de uns meses para digerir tudo que ele escreveu e descreveu pois não conseguiria isso fazer num final de semana.
Desculpe-me se o aborreço com meu comentário
Abraços
Nicoleta
Puxa! Mas para que tanta virulência?
ResponderExcluirÉ só poesia!...
Guardo esse gás todo para assuntos que envolvam uma atitude contestatória legítima, a política, por exemplo.
O belo, geralmente, acolhemos de bom grado.
O texto de Renato é belo
Marcos Rocco
Ué! Eu não vi nada de errado no texto do Renato.
ResponderExcluirNós aqui de Portugal ficamos felizes em saber que nosso país ainda é tratado tão fraternalmente nas letras do Brasil.
ResponderExcluirTambém sou leitor do JL.
Renato, sabes do que é bom!
Caro Roberto:
ResponderExcluirfico com pena que você não esteja na Bienal. Mas tentarei ir e certamente encontrarei o Luiz Antonio Barros, Wanderlino, a Graça Porto e outros amigos. Estranhei o que disse no seu blog uma pessoa chamada Ricoleta Rebel: certamente , ela não costuma viajar, coisa que eu faço desde rapazola, todos os anos . Estes comentários referem-se à viagem que fiz ano passado e, graças a Deus, estou próximo a outra viagem . É interessante lembrar que eu tenho amigos que moram fora do Brasil; quando estou fora não é para ficar parado dentro de um hotel. Eu passeio e curto as coisas bonitas, tanto lá como aqui no meu país. Não fico uma semana fora, fico dois/ três meses, e normalmente regresso de navio. Desejo muita saúde a esta senhora, para que ela venha a aproveitar uma das coisas boas da vida: viajar , curtir, emocionar-se, registrar sensações no coração e ter múltiplos amigos. Não quero incomodar ninguém e sou grato pelos comentários que ela fez, embora tenha posto dúvidas sobre os registros tão simples que fiz. Cordialmente,
Renato Augusto Farias de Carvalho
Roberto, errei o nome da senhora comentárista: o correto é NICOLETA, e não Ricoleta como escrevi. Peço desculpas e agradeço-lhe pela correção . Um abraço Renato
ResponderExcluirQuerido amigo, Renato!
ResponderExcluirEstive por 15 dias em JF com minha mãe. por isso andei sumida.
A-MEI o blog! Postei um comentário sobre o que vc escreveu sobre Portugal, e não saiu nada. Vamos ver se depois eles colocarão.
O importante é dizer a vc que adorei a sua descrição poética sobre as belezas e peculiaridades de Portugal, que observei você conhece em profundidade.
Então me animei mais ainda a viajar para lá, porque eu já tinha esse plano.
Beijos da
Marly
"Viajar é uma ação renovadora, sempre. Pressupõe desamarrar (pré)conceitos e esquecer inevitáveis comparações". Esta frase que inicia o seu texto, mostra o verdadeiro espírito de um viajante. Não um turista qualquer, desses fotografentos, que sai de seu país de origem mas carrega a casa nas costas e tudo compara e nada sabe enxergar. O viajante é generoso mas atento, isento mas realista, sem preconceitos mas observador e estudioso, por isto aproveita e curte até a última gota os lugares que visita. E você já visitou tantos, e ainda vai visitar muitos mais. Sei que no seu querido Portugal tens amizades que perduram através dos anos. Tens queridos amigos espalhados pelo mundo, amigos feitos em viagens, que continuaram amigos, não se perderam, como é tão comum acontecer em viagens. Seu texto é belo, e é belo pela composição e pela generosidade de contar um pouquinho sobre o muito que você conhece. E você escreve e descreve como poeta, um danado de um Poeta globetrotter.
ResponderExcluirCarlos
Caro Mauro Sá: há aqui entre nós um relativo interesse e muita simpatia e amor pela pátria portuguesa. Digo relativa, porque ainda existe pouco intercâmbio. Bem que seria excelente recebermos sempre um exemplar do JL. Gostei muito de sua interferência no blog do Roberto, no dia 03.09.11, quando ele publicou uma crônica minha a respeito de uma viagem, no ano passado, a Portugal. Obrigado. Aproveito para dizer-lhe que estarei chegando novamente a essa pátria, que eu tanto amo, em abril de 2012. Meu email particular é reversos@hotmail.com Cordial cumprimento de Renato Augusto Farias de Carvalho.
ResponderExcluirObs: O blog de Roberto Kahlmeyer-Mertens é um excelente instrumento de confraternização, informações literárias e inegável seriedade. Apesar do doutorado, Roberto sabe manter a simplicidade das pessoas cultas e educadas - Renato.
A poesia viaja, minha gente. Navio ou avião? O viajante.
ResponderExcluirEu não saio do meu canto e tenho aqui um mundo de olhares sentidos do Renato Augusto.
Itaipu em viagem pra Primavera,9.9.2011.
Beatriz Escorcio Chacon.
Por que distilar tanto fel em texto bem escrito sobre a alegria das descobertas que nos acontecem ? Centenas de escritores consagrados através do tempos contaram e cantaram suas viagens que até hoje nos enriquecem quando as lemos. Renato Augusto o fez com leveza, competência e emoção. Devemos ser gratos e, nos sentirmos felizes, viajando com ele mundo afora. Pessoas existem que amargaram e se deliciam em destruir a doçura alheia. Não conseguirão.
ResponderExcluirBranca Eloysa
Mandou bem Renato!
ResponderExcluirUma excelente peça literária.
Quando haverá outra crônica sua?
Moritz Ganduá
MORITZ GANDUÁ, (dia 14.09.-07.57h )
ResponderExcluirQuero muito agradecer-lhe, à Branca Eloysa e a todos os que me deram essa alegria da manifestação no atuante e competente blog do Roberto
(quando da publicação de uma crônica minha) Grato,
muito atenciosamente
Renato Augusto
Caro Renato,
ResponderExcluirReconheço um verdadeiro escritor em quilômetros!
Você nasceu para as letras.
Roberto, publique o Renato Augusto Farias de Carvalho mais vezes. É uma intimação.
Moritz Ganduá