por Roberto Kahlmeyer-Mertens
A editora do SENAC-RJ reedita “Da cor à cor inexistente”, de Israel Pedrosa. O livro, considerado estudo original sobre as cores, é contribuição relevante aos conhecimentos da óptica e responsável pelo refinamento técnico-prático no campo das artes visuais. Publicado inicialmente em 1977, o trabalho rendeu ao pesquisador e artista plástico o Prêmio Thomas Mann, oferecido pela Embaixada da Alemanha. Após isso, o professor da Universidade Federal Fluminense – UFF, que fez uma série de palestras de divulgação naquele país e no Brasil, foi convidado pela Enciclopédia Mirador para coordenar, em 1978, a equipe multidiciplinar responsável pela cunhagem do verbete “cor”, da mesma. Requisitado por grupos representantes de emissoras de televisão, colaborou com a implementação da TV a cores em nosso país, o que também ocorreu com a multinacional Xerox, que se serviu da consultoria do pesquisador, beneficiando-se do saldo de suas pesquisas para solucionar problemas no desenvolvimento das tecnologias da fotocópia colorida.
Abordando o fenômeno cor, visando seus aspectos físicos, perceptuais e estéticos, o autor pesquisou concepções da física moderna, detendo-se principalmente nos estudos de Newton. Dialogando com o célebre ensaio de Goethe, “Esboço de uma teoria das cores”, Israel Pedrosa pôde promover uma clarificação de aspectos históricos do conceito de cor, fazendo com que sua obra constitua um argumento teoricamente válido e saneador de imprecisões de certos conceitos relativos à aplicação das cores, elevando o nível dos conhecimentos sobre o tema.
É preciso ressaltar, entretanto, que o motivo pelo qual “Da cor à cor inexistente” vai, ainda repleto de validade, à sua décima edição (excetuando-se as de língua inglesa) é a delimitação do conceito de “cor inexistente”, objeto para o qual a obra apresenta elegante teoria. Apoiando-se na observação de entes físicos, o pesquisador observou que corpos idênticos de cor branca sob efeito da luz solar, em iguais circunstâncias e intensidade, manifestavam, sem que houvesse interferência externa, cores como o violeta em diversos matizes. A partir disso, pode o autor afirmar: “Tive naquele instante a imediata intuição de que se tratava de um fenômeno físico e não de uma ilusão ótica”. Apropriando esta experiência para o campo das artes visuais, Israel Pedrosa inferiu que seria possível projetar tal fenômeno em um suporte físico reproduzindo em relações cromáticas uma cor que não havia sido quimicamente fixada.
Essa explicação sumária da teoria da cor inexistente encontra, no livro, fundamentação teórica suficiente a partir de discussões sobre a imaterialidade da cor, seu condicionamento à existência da luz, fatores perceptivos como o efeito colour vision e esclarecimentos quanto à substância material e propriedades específicas dos pigmentos que geram cor a partir da refração da luz.
Na nova edição (primeira pela Editora do SENAC) é possível encontrar, além das inúmeras ilustrações necessárias, um conjunto de críticas, depoimentos e notícias que documentam a recepção dessas ideias no panorama nacional e estrangeiro. Entre os depoimentos, estão os do astrônomo Rogério Freitas Mourão, do lexicógrafo Antônio Houaiss e de representantes de Universidade de Louvain, na Bélgica.
Da cor à cor inexistente é, de fato, “uma rara ponte entre a ciência e a arte”.
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